De fato e sapatilhas

Por Ruben Caio

Nos dias que correm andamos cada vez mais preocupados em vivermos os nossos caprichos e deixarmos a culpa das grandes atrocidades do mundo para os outros. Dando vestes a esse lúgubre modo de viver partilhamos notícias rotuladas com uma legenda crua e acusadora como “é por vossa culpa que o mundo está como está”. Repugnando o atual estado das coisas sou assaltado por muitas questões. O quão mau seria se adotássemos um dress code diferente? O quão mau seria se ganhássemos noção e não nos olhássemos apenas ao espelho para ajeitar a gravata, mas olhássemos para a janela e procurássemos soluções para mundo que definha?


No meio de “super-inteligentes” mas inclinando-se mais para o lado burlesco, parei algumas vezes a apreciar o temporal que nos brinda com ventos (não tão fortes como há alguns dias atrás), chuva, e pessoas a correrem atrás de abrigo, e umas a fazerem de uma simples manta o seu abrigo. Cheguei à fase em que o simples rio de pensamentos desaguou no mar da reflexão. A minha grande questão é se não está na hora de deixarmos de olhar apenas para o fato, mas calçar umas sapatilhas e lutar pelo que realmente importa. Seria vergonhoso para os famosos “Sr. Dr.” andarem de sapatilhas? E se fossem para correr atrás da solução das atrocidades que acontecem mesmo ao lado? Se fosse para corrermos atrás do ambiente que hoje quase já não nos proporciona o que sempre foi normal? E se fosse para correr atrás das coisas que realmente importam e não estarmos apenas confortáveis com selfies, e partilhas, atirando a culpa para os outros? Milhares de pessoas morrem todas as semanas, milhares de animais perdem o seu habitat, milhares de crianças perdem a sua infância, e o melhor que podemos fazer é ajeitar o fato, calçar os sapatos e, mais uma vez, culpar “o mundo”? É hora de acordar!


Como diz o ditado popular «grão a grão a galinha enche o papo», levemos isto em conta pois a cada garrafa que apanharmos, a cada lar que ajudarmos, a cada pessoa que tirarmos da rua, estaremos a alimentar não uma grande galinha, mas estaremos a nos alimentar enquanto seres humanos e estaremos a proteger o sítio que supostamente amamos.


Calcemos todos as nossas sapatilhas, estejamos de fato ou vestido, e mudemos o estado das coisas, pois se for para correr atrás das soluções, não o faremos sentados.

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