Deixá-los à solta?

 | Pedro Mendonça

Enquanto cidadãos temos duas opções para lidar com a democracia, ou votamos de quatro em quatro anos delegando totalmente nos partidos em que votámos a nossa representação, ou além do voto que fazemos e utilizando os mecanismos legais, vamos estando atentos, questionando o que não entendemos e se for caso disso propondo aos políticos eleitos alterações ao rumo seguido.
Parece que já estou a ouvir que não vale a pena tentar e que ninguém no sistema nos liga nenhuma a não ser em ano de eleições, mas recordo aqui duas situações aqui mesmo passadas no Cartaxo, em que a ação dos cidadãos fez a democracia funcionar entre eleições e alterou o rumo que os representantes dos cidadãos tinham anteriormente decidido.
Falo obviamente no referendo local que proibiu concessionar a privados por trinta anos o parque de estacionamento e dezenas de ruas no Cartaxo e do aumento brutal de água travado em 2011 por um abaixo-assinado de mais de três mil cartaxeiros e por duas assembleias municipais com a presença de centenas de cidadãos.
Em ambos os casos foram os cidadãos que mudaram as decisões já tomadas, em ambos os casos partidos políticos mudaram de posição e em ambos os casos o Cartaxo ficou a ganhar.
Num tempo em que 99 por cento de nós vive pior que há dez anos atrás, em que a Câmara Municipal se encontra falida e falido está o país, é essencial que além dos partidos também os cidadãos decidam para onde deve ir algum do pouco dinheiro que resta. Falo obviamente de um orçamento participativo.
É um caminho difícil, mas é uma das maneiras de controlar o que se passa na nossa terra. A opção é deixar os eleitos à solta, fazendo o que bem entendem durante quatro anos ou pelo contrário, utilizar os mecanismos legais e de cidadania para que deixemos de dizer “eles fazem o que querem”, pois a realidade é que “eles” por vezes fazem o que fazem porque nós nos demitimos de ser cidadãos e de intervir diretamente nos assuntos que são essencialmente nossos.

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