A dependência que hoje temos da tecnologia pode ultrapassar a barreira do desejável e tornar-nos “agarrados” ao smartphone ou ao dispositivo que utilizamos para nos ligarmos “ao que nos rodeia”.
Uma viagem em qualquer transporte público perto de uma cidade demonstra precisamente isto. Cada vez mais as pessoas estão isoladas no seu mundo, seja ele qual for; os jogos, as mensagens ou as leituras, as notícias que nos são empurradas pelos olhos dentro, cada uma mais “novidade” que a outra.
Nunca foi fácil, sobretudo na juventude e adolescência, passar sem a “ligação”, sem a partilha, sem a cumplicidade, sem o sentido de grupo, de “pertencer”. Hoje tudo isso está no ecrã mais próximo. É impossível conter e combater.
É com os telefones que combinam o que vão fazer, dizem mal disto e daquilo, bem daquele ou daquela, expressam os sentimentos com imagens e riem-se dos mesmos vídeos. À medida que forem crescendo, sempre habituados ao que a tecnologia lhes proporciona, vão aperceber-se do que mais podem fazer e criar e partilhar. Que partilham uma linguagem comum, a linguagem digital. E acreditem que sei do que falo.
E a escolha é múltipla e variada. É, sobretudo, artificial. Mas não deixa de ser tão ou mais viciante que algumas substâncias físicas.
Contudo, o mundo não é digital. Digitais são os anúncios daquelas coisas bonitas, dos cabelos ao vento e dos abraços. Real, mesmo, é sentir o vento, o gelado de tangerina, a água fria do Baleal e o café quente.
Reais são, igualmente, os efeitos da abstinência dessa ligação, segundo estudos efetuados, já em 2011. Apesar de tudo, continuo a preferir dependências de sensações que são, habitualmente, de “partilha” mais limitada; um sabor, um cheiro ou um toque. E essa é que é essa.