Deputados municipais dizem ‘até já’ à vida política

Pedro Barata, Luísa Pato e Pedro Reis, do PSD, e Hélder Anacleto, do PV - MPC, deixam Assembleia Municipal

Realizou-se na sexta-feira, 15 de setembro, a última Assembleia Municipal do presente mandato.

Uma sessão que ficou marcada pelas despedidas da vida política de alguns autarcas que há diversos mandatos integram este órgão.

Foram os casos dos eleitos Pedro Reis, Pedro Barata e Luísa Pato, do PSD, e Manuel Alfredo Fabiano e Hélder Anacleto, do Paulo Varanda – Movimento Pelo Cartaxo (PV – MPC).

Pedro Reis lembrou que, passados quase 20 anos, quando foi pela primeira vez eleito para a Assembleia de Freguesia de Pontével, com pouco mais de 20 anos, “hoje faço a minha última intervenção enquanto autarca no concelho do Cartaxo”.

É preciso mudar os paradigmas da gestão da coisa pública.

Pedro Reis

“Depois de tantos anos, o que sinto, é um paradoxo de sentimentos. Por um lado, saio com a consciência tranquila de que tudo fiz para desempenhar da melhor forma as funções que me foram confiadas e, sobretudo, sempre honrei as pessoas que em mim votaram; por outro lado, sinto o amargo do peso de ver um território que em 20 anos se degradou e se tornou pior para quem cá escolheu viver”, prosseguiu, tecendo críticas à inexistência de uma zona industrial no Casal Branco e à não criação de empregos no Falcão, à falta de condições para as empresas cá se instalarem; “20 anos depois, temos um Município de costas voltadas para as suas associações e coletividades, continuamos sem Gabinete de Apoio às Associações”; à existência de aglomerados populacionais sem saneamento básico; ou à falta de preservação dos espaços verdes.

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A terminar, e apesar de reforçar que “esta terra está pior que há 20 anos”, Pedro Reis garante acreditar que “esta terra cheia de gente boa e trabalhadora vai conseguir dar a volta por cima e que dentro de muito pouco tempo o Cartaxo volte a ser um concelho atrativo, pujante, com orgulho na sua cultura e nas suas instituições. Mas para que isso aconteça é preciso mudar, mudar as mentalidades da maioria dos políticos e das políticas da terra; é preciso mudar os paradigmas da gestão da coisa pública, a nossa autarquia não pode continuar a ser arbitrária e a favorecer uns em detrimento dos outros”.

“Independentemente das diferenças ou das divergências, estou convencido que foram mais as convergências do que as divergências, sem prejuízo dos próximos eleitos, é uma voz que irá sempre fazer falta nesta Assembleia, neste concelho, independentemente das causas que cada um de nós defende, do ponto de vista partidário, mas a causa política foi sempre a mesma, que é o futuro do nosso concelho”, disse Pedro Ribeiro, presidente da Câmara Municipal, a propósito da despedida de Pedro Reis, num cumprimento que quis estender aos restantes eleitos.

Pedro Barata, eleito há mais de 20 anos consecutivos na Assembleia Municipal do Cartaxo, também se despediu, mas com um até já.

O balanço é muito, muito negativo, e as coisas boas que foram feitas, infelizmente, tiveram um custo muito elevado.

Pedro Barata

Também Pedro Barata considera que o concelho se tem vindo a degradar e, apesar de todos os avisos, “infelizmente, chegámos a um ponto com a dívida que todos nós conhecemos”. Apesar de terem sido feitas coisas boas, “o balanço é muito, muito negativo, e as coisas boas que foram feitas, infelizmente, tiveram um custo muito elevado”, lamentou.

“Eu não vou dizer que é a minha última Assembleia, não sei o dia de amanhã”, confessou, assegurando que “vou continuar a trabalhar, encaro esta função com o mesmo respeito que associações, etc, que já representei no passado e que vou representar nesta nova janela, nesta nova página”.

Ao fim de mais de 20 anos, Pedro Barata guarda com carinho algumas intervenções que fez neste órgão. Casos da intervenção no 25 de Abril, no caso Cartagua, “mas também duas situações que, ao longo destes anos, ninguém mais ousou fazer nesta Assembleia, que foi, havendo substituição da mesa, encabecei duas candidaturas à mesa da Assembleia”.

Aprendi imenso com a política, a política deu-me imenso prazer de exercer.

Luísa Pato

“Não tive foi a oportunidade de estar em nenhum órgão executivo, tenho pena disso não ter acontecido até agora, mas tenho esperança que, no futuro, isso ainda possa vir a acontecer, porque ideias e convicções não faltam”, confessou.

Quem também se despediu da vida autárquica foi Luísa Pato. Autarca há 32 anos, “aprendi imenso com a política, a política deu-me imenso prazer de exercer”. Também Luísa Pato considerou que “deixo a política com um concelho pior do que aquele com que entrei, não perdi o sentido crítico que a política nos ensina, e isso é um ensinamento muito bom. Sou de um partido que nunca ganhou nada, de um partido perdedor por natureza em termos eleitorais, mas sou de um partido em que os valores fazem sentido”.

“É verdade que quando se começa a vida política, atendendo, até, à nossa idade, se começa com uma grande esperança de que podemos mudar alguma coisa, neste caso, na vida do concelho, e foi sempre pautada por esse registo que eu exerci a política. Lembro-me que tive uma ou outra vitória”, explicou Luísa Pato, que terminou a sua intervenção de despedida com um poema de Miguel Torga, que integra o volume ‘República e Maçonaria’, da autoria de Rogério Coito, da coleção Cartaxo – 200 Anos, lançada pelo Jornal de Cá por ocasião das comemorações dos 200 anos do concelho do Cartaxo, e oferecida pela autarquia a todos os eleitos na Assembleia Municipal nesta última sessão.

Não é uma despedida, é apenas um até já.

Hélder Anacleto

Hélder Anacleto, do PV – MPC, aproveitou esta última Assembleia para dizer que os eleitos do PV – MPC terminam o mandato com “sentido de dever cumprido”. “Cada um de nós deu de si, entregou-se nas suas convicções, com a certeza de que a sua posição seria a mais correta para o povo que representa e em nós votou em 2013”, acrescentou.

Garantindo que este movimento não está agregado a qualquer força política, Hélder Anacleto finalizou, agradecendo a todos e garantindo que “não é uma despedida, é apenas um até já”, já que a liberdade deste movimento e da consciência de cada um dos seus elementos se mantém.

Também Manuel Alfredo Fabiano, do PV – MPC, se despediu. “Esta será a minha última Assembleia Municipal, tanto na qualidade de deputado como na qualidade de presidente de Junta de Freguesia, uma vez que nas próximas eleições autárquicas não me irei candidatar a lugar nenhum”, referiu, acrescentando não concordar com a ideia de que o Cartaxo está pior que há 20 anos. “Ou eu, na realidade, vejo muito mal, ou aquilo que as pessoas afirmam talvez seja um pouco de saudosismo em relação a certas coisas que existiam há 30 anos. A única coisa que eu posso afirmar é que o povo tem sempre razão”, salientou Manuel Alfredo Fabiano.

A terminar, “quero apenas agradecer a todos a paciência que tiveram comigo nesta casa. Não é um ‘até já’, porque eu vou-me embora definitivamente”, finalizou.

Isuvol
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