Ontem fui ao café e falava-se em desistir. Falavam-me em desistir da profissão aqui e ir embora fazer o que faço num outro qualquer país. Não é algo que não me tenha já passado pela cabeça, mas eu sou um bocado teimoso. Se todos desistirmos, quem restará?
A principal razão que me davam era que há muito trabalho envolvido naquilo que fazemos para o pouco reconhecimento que temos, não só no meu caso e no caso da minha profissão, mas também na do meu interlocutor, que está numa área completamente diferente. Diziam-me que as pessoas, cada vez mais, comem aquilo que lhes puserem à frente. E foi nisto que fiquei a pensar… Se assim for, mais vale desistir por completo. Não há qualquer nível de exigência? O consumidor, seja ele de teatro, música e livros ou de pastéis, bolos, cozido à portuguesa e rojões, não sabe distinguir? Não sabe distinguir o que é bom do que é mau, ou o creme da bola de Berlim tem de estar mesmo azedo para ele reclamar?
Acredito que o público veja o que lhe põem à frente, com programas de manhã e tarde na televisão, iguais uns aos outros, a durarem cinco e seis horas cada um. Torna-se difícil a escolha para quem, muitas vezes, só tem esses canais, mas pode reclamar-se à mesma. O produto tem falta de qualidade, é igual e maçador.
Chegámos à altura das festas que, semana sim, semana sim, povoam as terras de Portugal, enchendo o ar de música e cheiros que dão vontade de vir para a rua. Mas até nas festas o formato de programa de tarde da televisão está a acontecer, hoje toca a aqui o Sr. X e amanhã na terra vizinha o mesmo Sr. X. Com tantos que o país tem…
Desistimos? Eu, por mim, acho que continuarei, pelo menos até ver… E vou aproveitar todas as festas da vizinhança para ver o que se anda a fazer e aproveitar estas noites de calor.