Tenho saudades dos meus amigos que estão longe, cá dentro e além fronteiras. Os dias vão passando e lembramo-nos de momentos perdidos e sorrisos eternos, que queremos que durem para sempre. Queremos voltar atrás e repetir os jantares, encontros, convívios e sonhos do que queríamos fazer e desejávamos ser quando fôssemos mais velhos, algures na ingenuidade do tempo.
Ouvir aquela música na rádio do carro, que passou tantas vezes naquelas noites sem fim, desperta a nostalgia diária cada vez mais voraz de pesquisar músicas velhas das décadas de 70, 80 e 90, elaborar “playlists” digitais que substituem velhas cassetes piratas e partilhá-las no “facebook”, no espectro universal à distância de um clique, à espera de uma reação imediata e quase telepática dos amigos em França, Santarém, Lisboa, Porto e Cartaxo.
Tenho a certeza que se nos juntássemos todos, iríamos chorar a rir, repetindo aquela história macabra do fantasma de Vilarinho das Furnas, o campismo de luxo na Nazaré, a despedida de solteiro que começa num copo de cerveja no “Bota Abaixo” em Santarém, passa pela Foz do Arelho, e acaba celebrada na Igreja da Graça com repasto na Portela das Padeiras no “Oh! Vargas”, na estreia magnífica como tunante caloiro nas escadas do Seminário de Santarém, na vergonha inoportuna e quase ofensiva do nosso tenor lembrar-se de contar anedotas alentejanas com pronúncia de Bragança em Marvão numa sala cheia onde mal se ouviu umas palmas.
Quem me dera não me esforçar cada vez mais em lembrar-me deles todos, com a memória a atraiçoar-me com lembranças que que não fazíamos ideia que ainda existiam e que já não nos lembramos quando foi e com quem. Só espero que os meus amigos estejam bem, seja em que lugar for, e vivam todos para sempre com as memórias que o tempo não deixa esquecer.
Crónica publicada na edição de novembro do Jornal de Cá.