Por Sónia Parente
Quando nasce um irmão o ciúme é um sentimento natural. Apesar de os pais tentarem convencer o irmão mais velho de que o irmão mais novo será um amigo e companheiro de brincadeiras, a verdade é que terá de dividir com o irmão mais novo o amor e a atenção da mãe, do pai e avós, os brinquedos e por vezes o quarto.
A mudança na vida do reizinho da casa começa quando a mãe chega da maternidade com o bebé ao colo. O irmão mais velho pode ter concordado e incentivado o nascimento do irmão, mas viver isso, na prática, é diferente. O ciúme pode não surgir imediatamente mas com o passar do tempo, especialmente quando o irmão mais novo começa a andar, a falar, a insegurança surge e o ciúme é inevitável.
Mesmo usando toda a psicologia do mundo, dificilmente ele irá adorar ter um irmãozinho, o que não quer dizer que não goste dele, o que não gosta é de dividir tudo o que antes era só seu. São sentimentos contraditórios para a criança e o sentimento de culpa gerado pode ser arrebatador.
A demonstração de ciúme varia de criança para criança e os pais devem estar atentos, pode-se tornar mais desobediente, agressivo com os pais e/ou o irmão ou tornar-se mais introspetivo, ter problemas no sono ou regredir: voltar a chuchar no dedo, a fazer xixi na cama ou a falar de forma mais infantil…Também é possível que tenha um bom comportamento em casa mas problemas na escola. Os pais devem ser firmes em relação aos seus maus comportamentos, tendo o cuidado de não o fazer sentir ainda mais culpado. Mostrar que o errado é o seu comportamento e não ele próprio.
É essencial elevar a sua autoestima, realçar as suas qualidades e as vantagens de ser o irmão mais velho, que consegue fazer muitas coisas que o seu irmãozinho não consegue. Os pais não devem fazer comparações entre irmãos, o irmão mais velho deve ser incentivado a participar nos cuidados do mais novo. Os membros da família devem passar algum tempo sozinhos com ele. Os comportamentos negativos e infantis devem ser ignorados o mais possível para que não chame a atenção através deles.
É importante permitir que a criança verbalize as suas inseguranças, os seus sentimentos negativos relativamente ao irmão mais novo e ao facto de ter menos atenção. Os pais devem mostrar que entendem que não está a ser fácil para ele. Através do diálogo, deve-se ajudar a criança a manifestar e a entender melhor as suas emoções, levando-a a sentir-se amada e ouvida e a saber que os pais estão atentos aos seus sentimentos. Com paciência e compreensão a adaptação à nova situação familiar vai acontecendo.
Sónia Parente é psicóloga clínica