Tropeçamos neles e os incontornáveis cartazes de campanha lembram-nos que estamos em ano de eleições autárquicas. Curioso perceber que num mundo digitalizado, a mensagem política ainda passa muito pela visibilidade na rua, dando rosto a candidatos que de outra forma poucos conheceriam.
Vendem-se promessas ou ilusões, cabe a cada um escolher. Mas os chavões usados não auguram nada de bom. São vazios de conteúdo, filhos de uma era do marketing político onde a forma se sobrepõe ao contexto. A “mudança” que se quer é proposta lado a lado com um “continuar” algo que não se sabe ao certo o que seja. Afirmar que “somos” o povo, que se é “pessoa” e parte de algo ou algures. Que se “sente” a terra e que se “está de volta” às raízes. Tudo encenado para em pouco se querer dizer tudo, como num passe de magia. É de ilusões que se trata neste teatro de “vendas” a céu aberto, em 308 municípios.
Vendem-se a continuidade, quando esta surge a contento, a mudança, quando esta é tida como necessária, o regresso, dos que já foram e querem voltar a ser soluções. Não cabem aqui os muitos exemplos de mau gosto e jargões que roçam os limites da razoabilidade. Tudo parece ser possível para chamar a atenção nesta dança das cadeiras. E as ilusões têm de ser alimentadas de modo a que os almejados lugares políticos sejam ganhos.
Num país com graves problemas económicos, financeiros e sociais não deixa de ser curioso assistir a tanta vontade expressa em dar a cara e ser o responsável de pelouros públicos onde se gerem alguns milhares e milhões de euros. Fica a sensação que em muitos dos casos as motivações para as candidaturas não sejam as mais louváveis, sendo menos do interesse público e mais do(s) privado(s). Adiante. E por detrás destas lutas concelhias jogam-se peças partidárias nos tabuleiros e medem-se ações e consequências a nível nacional. Mas o que verdadeiramente se altera nas realidades de cada autarquia? Em muitos casos muito pouco para as necessidades prementes de inverter tendências de esvaziamento populacional e de empregabilidade. Existem diferenças enormes entre regiões e dentro destas entre visões.
No interior vemos grande qualidade de infraestruturas e embelezamento paisagístico, a contrastar com a pressão edificante do litoral e da atração de empresas. Mas há algo que urge acima do mais, é inverter a desertificação do interior e melhor distribuir a riqueza e recursos de modo a evitar que os grandes centros urbanos se agigantem ainda mais, com as perdas de identidade e qualidade de vida dos deslocados. Haja menos ilusões e mais coragem e realismo. Portugal merece mais e melhor. De todos e para todos.