Episódios da Guerra Peninsular

Por Miguel Montez Leal, Investigador do IHA Nova fcsh, Instituto de História de Arte

Miguel Montez Leal

Cartaxo, 14 de Novembro de 1810, chegada de Massena com as suas tropas depois da retirada das Linhas de Torres.

Na retirada francesa das Linhas de Torres (Torres Vedras = Torres Veteras) deu-se um combate no Cartaxo diz-se na memória local que terá acontecido num pequeno bosque perto do edifício do Palácio da Justiça. A Praça de Touros datada de 1874 ainda não existia e veio a ocupar nesta data mencionada parte da cerca do Convento Franciscano fundado no século XVI por D. Isabel Mendanha, mulher de D. João de Meneses. A arena encontra-se construída sobre campo santo e sobre muitas tumbas dos nossos antepassados, por isso diziam os nossos bisavós e trisavós que no dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos e encerramento simbólico da época taurina haveria de chover porque este novo coliseu foi erigido sobre campo santo.

Voltando aos franceses. O infame Massena protegendo-se do intenso nevoeiro que chegava do mar e da Serra do Montejunto passou pelo Cartaxo do dia 14 para o dia 15 de Novembro, e esta escaramuça não foi pêra doce.

À parte familiar que exemplifica muito do que aconteceu aqui neste concelho e donde em grande parte muitos de nós têm parte das suas origens.

Neste contexto chegaram ao Cartaxo os meus tetravós, António Leal e Maria Teresa e trouxeram consigo dois filhos: o mais velho, José Leal e o mais novo, Faustino Leal que ainda nasceu em 1804 em Alcoentre (na Freguesia de Nossa Senhora da Purificação).  A família era originária do Oeste, da Vermelha, do Carvalhal de Óbidos, de Óbidos, de Torres Vedras e ancestralmente de Sintra. Vieram com a roupa do corpo, provavelmente com algum dinheiro e algum pistolão na cintura, e pouco mais. António Leal (tetravô) e Faustino Leal (trisavô) tinham uma boa caligrafia e casaram, Faustino, meu trisavô com uma senhora do Cartaxo, e já viúvo com uma senhora de Santarém, a minha trisavó. O meu bisavô Leal, António Faustino Leal foi o primeiro do meu ramo a nascer no Cartaxo em 1860. Vieram para aqui para se protegerem dos franceses e porque Wellington estava aqui instalado no Solar dos Sousa Lobato, onde viveu durante cerca de cinco meses (de 18 de Novembro de 1810 a 5 de Março de 1811).

Há anos propus num livro que escrevi (Cartaxo, 200 Anos do Concelho, Os Primeiros Anos, Jornal de Cá, Dezembro de 2015) que o Cartaxo se geminasse com Torres Vedras por serem vilas irmãs e por terem enfrentado com valentia, denodo, lealdade e coragem a ameaça de Napoleão Bonaparte (Malaparte, para mim).

A seguir a Santarém, o Cartaxo foi a terra com maior número de mortos, 165 (entre Março e Julho de 1811). Cerca de metade das casas do Cartaxo ficaram sem portas e janelas, pois os franceses necessitavam de lenha para se aquecer ou para fazerem barcas, jangadas, pontes provisórias, de tipo sapadores, carros de transporte e padiolas.

No quinto episódio, da primeira temporada, da série documental ‘O Tempo que Fala’, destaca-se um edifício que é testemunha do período da Guerra Peninsular, no Cartaxo e que pode ver aqui.

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