Cartaxo, 14 de Novembro de 1810, chegada de Massena com as suas tropas depois da retirada das Linhas de Torres.
Na retirada francesa das Linhas de Torres (Torres Vedras = Torres Veteras) deu-se um combate no Cartaxo diz-se na memória local que terá acontecido num pequeno bosque perto do edifício do Palácio da Justiça. A Praça de Touros datada de 1874 ainda não existia e veio a ocupar nesta data mencionada parte da cerca do Convento Franciscano fundado no século XVI por D. Isabel Mendanha, mulher de D. João de Meneses. A arena encontra-se construída sobre campo santo e sobre muitas tumbas dos nossos antepassados, por isso diziam os nossos bisavós e trisavós que no dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos e encerramento simbólico da época taurina haveria de chover porque este novo coliseu foi erigido sobre campo santo.
Voltando aos franceses. O infame Massena protegendo-se do intenso nevoeiro que chegava do mar e da Serra do Montejunto passou pelo Cartaxo do dia 14 para o dia 15 de Novembro, e esta escaramuça não foi pêra doce.
À parte familiar que exemplifica muito do que aconteceu aqui neste concelho e donde em grande parte muitos de nós têm parte das suas origens.
Neste contexto chegaram ao Cartaxo os meus tetravós, António Leal e Maria Teresa e trouxeram consigo dois filhos: o mais velho, José Leal e o mais novo, Faustino Leal que ainda nasceu em 1804 em Alcoentre (na Freguesia de Nossa Senhora da Purificação). A família era originária do Oeste, da Vermelha, do Carvalhal de Óbidos, de Óbidos, de Torres Vedras e ancestralmente de Sintra. Vieram com a roupa do corpo, provavelmente com algum dinheiro e algum pistolão na cintura, e pouco mais. António Leal (tetravô) e Faustino Leal (trisavô) tinham uma boa caligrafia e casaram, Faustino, meu trisavô com uma senhora do Cartaxo, e já viúvo com uma senhora de Santarém, a minha trisavó. O meu bisavô Leal, António Faustino Leal foi o primeiro do meu ramo a nascer no Cartaxo em 1860. Vieram para aqui para se protegerem dos franceses e porque Wellington estava aqui instalado no Solar dos Sousa Lobato, onde viveu durante cerca de cinco meses (de 18 de Novembro de 1810 a 5 de Março de 1811).
Há anos propus num livro que escrevi (Cartaxo, 200 Anos do Concelho, Os Primeiros Anos, Jornal de Cá, Dezembro de 2015) que o Cartaxo se geminasse com Torres Vedras por serem vilas irmãs e por terem enfrentado com valentia, denodo, lealdade e coragem a ameaça de Napoleão Bonaparte (Malaparte, para mim).
A seguir a Santarém, o Cartaxo foi a terra com maior número de mortos, 165 (entre Março e Julho de 1811). Cerca de metade das casas do Cartaxo ficaram sem portas e janelas, pois os franceses necessitavam de lenha para se aquecer ou para fazerem barcas, jangadas, pontes provisórias, de tipo sapadores, carros de transporte e padiolas.
No quinto episódio, da primeira temporada, da série documental ‘O Tempo que Fala’, destaca-se um edifício que é testemunha do período da Guerra Peninsular, no Cartaxo e que pode ver aqui.