Espelho de água

Opinião de Frederico Guedes

Num percurso de mais de mil quilómetros, o rio Tejo nasce na Serra de Albarracin a cerca de dois mil metros de altitude, em Aragão na vizinha Espanha, num sítio que só pela sua importância na Mãe Natureza torna-se deslumbrante, o qual já tive a oportunidade de visitar.

Até o seu esplendoroso estuário na capital do nosso país vai o seu leito banhando cidades como Toledo ou Talavera de la Reina ou no nosso Ribatejo por Abrantes e Santarém, atravessando o nosso concelho em Porto de Muge, Valada e Reguengo com a imponência de um lindo espelho de água.

Nestas localidades a beleza paisagística com as suas margens plenas de choupos, freixos ou o imponente salgueiro-chorão acompanham no meio do rio algumas ilhas denominadas mouchões verdadeiros ícones para o turismo ambiental e que fazem as delícias dos chamados Bird Watchings.

Recentemente participei numa petição pública contra à realização de uma prova de motonáutica, devido ao impacto ambiental negativo desta prova, porque a data coincidia com a época de nidificação das espécies migratórias que aí se instalam e que felizmente teve os seus efeitos visto esta ter sido adiada para outra data pelos seus organizadores.

Aliado a este tipo de turismo desfrutamos de um turismo gastronómico onde as enguias, a lampreia e o sável só encontram divulgação noutros concelhos como é o caso de Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira em que as respetivas Câmaras Municipais organizam festivais dessas iguarias com grande sucesso e impacto financeiro na restauração destas localidades.

Depois o turismo cultural onde no Escaroupim e na Aldeia da Palhota são os principais pólos da cultura avieira, oriundas de pescadores que, segundo a história no séc.XIV, se verificou uma das mais singulares migrações internas que Portugal conheceu e levou os pescadores da Praia da Vieira a estabelecerem-se no rio para viverem da arte varina do sável.

No outro lado da margem existe um cais idealizado com as devidas condições, onde a instalação de operadores turísticos com passeios de barco e um outro patamar de dinamismo organizativo. Por cá existe uma estagnação assustadora pois os dinheiros comunitários que foram canalizados num plano de dez milhões de euros, em 2009 através do Provere, não tiveram qualquer tipo de impacto nesta zona do nosso concelho.

Estas verbas seriam para realizar um projeto de desenvolvimento económico com base numa rota turística com início no Parque das Nações, numa iniciativa de matriz económica apostada na construção de aldeamentos turísticos complementados com um Parque de Campismo, uma ciclovia junto à margem do rio e a construção de um Museu do Tejo…

Hoje verificamos que tudo não passou do papel, e o que foi feito está mal idealizado e construído como o mini cais de Valada ou a recuperação dos diques de proteção que tem graves problemas de segurança. Contudo, é de enaltecer os projetos de turismo rural que vão pontuando na região, como é o caso da Quinta da Marchanta e da Quinta das Palmeiras ou a organização do Festival Reverence Valada que enaltecem a beleza desta região que, afinal de contas, não é de mais lado nenhum, mas sim de cá.
Isuvol
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