“Estar sempre no topo, é para isso que eu trabalho”
Duarte Fernandes é um jovem atleta pontevelense, a competir com as cores do Sporting Clube Portugal, mas é Mário Silva quem o treina diariamente. Juntos têm conseguido fazer grandes marcas no atletismo e não querem parar por aqui.
Na edição digital de abril, mês em que se assinala o Dia Internacional do Desporto, damos destaque a Duarte Fernandes, um jovem atleta pontevelense que está a dar cartas no atletismo. O Duarte, em março, alcançou o título de vice-campeão nacional e bateu um novo recorde pessoal. Está a ser treinado por Mário Silva, também ele pontevelense, que depois de 54 anos dedicados ao atletismo sente-se orgulhoso deste atleta, que aos 21 anos tem o futuro todo pela frente. Fomos ao encontro de ambos no Estádio Municipal do Cartaxo para esta reportagem.
A longo prazo, os objetivos do Duarte passam por ter a oportunidade de ir aos Jogos Olímpicos, aos Mundiais e aos Europeus. A curto prazo estão focados em fazer os mínimos para os Sub23 Europeus que se vão realizar já este verão. “Estar sempre no topo, é para isso que eu trabalho. Agora senti que dei um grande passo, estou confiante e a conseguir entrar no nível que quero”, afirma o atleta.
Duarte fez as primeiras corridas, no atletismo de Pontével por uma questão de conveniência, visto que mora perto. Confessa-nos que ainda se lembra do seu primeiro dia, quando lá chegou, o treino já tinha começado e foi Mário que o recebeu. “Eu fiquei à porta, o Mário foi ter connosco e puxou-me logo para o treino com os outros miúdos como se já fosse da família. Na altura não decidi ir para o Cartaxo porque sentia que era um ambiente com mais rivalidades, mais fechado. Ali em Pontével as pessoas davam-se todas bem”, considera o jovem.
Não fui eu que escolhi o Mário Silva como meu treinador, foi a vida que me deu esse privilégio
Duarte Fernandes
“Não fui eu que escolhi o Mário Silva como meu treinador, foi a vida que me deu esse privilégio”, são palavras de Duarte. Na altura em que se iniciou no atletismo na Casa do Povo de Pontével, havia cerca de 20 desportistas e quem os treinava era Mário. Depois ele decide afastar-se um pouco e Duarte continuou a trabalhar com Nélson Dantas, que foi a pessoa que tomou a liderança da associação. Só que Nélson era mais vocacionado para os lançamentos e Duarte treinava sobretudo barreiras e velocidade, na altura decidiram voltar a falar com o Mário e foi aí que ele se comprometeu a ir lá à sexta-feira, dar-lhe os treinos. “Começámos a trabalhar juntos e estamos aqui ainda”, diz-nos Mário.
A ligação entre treinador e atleta é muito importante, especialmente em desportos de competição, é o que nos explica este jovem, “temos de nos conhecer mutuamente e eu tenho de confiar no trabalho do meu treinador”. Depois de ter criado esta afinidade com Mário, confessa que já é muito difícil sair, e, portanto, agora que tem mais oportunidades de deixar de treinar com ele e passar a treinar com outro treinador de topo, não quer, porque pode não resultar dado que não têm nenhuma ligação.
“O Mário é o meu avô do atletismo, agora já não o vejo como treinador, já é um amigo e por isso é que nós resultamos um com o outro. Cada um tem a sua opinião, juntamos as duas e sai o trabalho que temos desenvolvido”, reitera Duarte.
Mário Silva, praticou atletismo desde 1969 até 2005, foram 36 anos como atleta em que conquistou vários títulos regionais e nacionais da FNA e depois também no INATEL. Como treinador já lá vão 43 anos a levar o nome de Pontével a muitas provas regionais, nacionais e inclusive chegou a ir também a campeonatos internacionais com os seus atletas em representação de Portugal. “Foi um orgulho muito grande”, admite Mário. Confessa-nos que “em tempos, o atletismo de Pontével chegou a ser muito reconhecido, contando com vários desportistas, uns inscritos na Associação de Santarém e outros no INATEL”. Em 87 até criaram uma equipa feminina e outra de veteranos.
A cabeça é muito mais importante que o corpo. Ele está cada vez em melhor forma, tem feito provas excelentes.
Mário Silva
Este treinador esteve também presente, em conjunto com o Ateneu Artístico Cartaxense, nos primeiros Jogos Internacionais do Vinho em 2006. Também nesse ano foi distinguido com um troféu pelo Jornal “A voz de Pontével” que premiava o trabalho desenvolvido em prol do associativismo. Em 2005 foi homenageado como treinador pela Associação de Santarém e em 2017, distinguido pela Câmara Municipal do Cartaxo com uma medalha de mérito municipal.
Sobre Duarte, Mário Silva descreve-o como dedicado, lutador, gosta de competir e de ganhar. “A cabeça é muito mais importante que o corpo. Ele está cada vez em melhor forma, tem feito provas excelentes. Este último recorde pessoal, fez com que vá entrar no plano de alta competição na federação”, explica-nos o técnico.
A vida deste atleta não é para todos, treina todos os dias cerca de duas horas e meia com Mário, menos ao sábado que é o dia de descanso. Recentemente, quando estava em testes, a treinar sem fazer o descanso, teve uma lesão que os fez recuar, mas os dois, cientes que poderia ser devido à falta de descanso, adaptaram o plano de treino para depois conseguirem avançar. “Uma coisa que eu faço sempre é escrever os treinos, para poder comparar as marcas e perceber a evolução do atleta. Até agora tem corrido muito bem”, conta Mário Silva.
Depois de 54 anos dedicados ao atletismo Mário sente-se orgulhoso deste desportista, que aos 21 anos tem o futuro todo pela frente e revela que foi Duarte que o escolheu, “ele disse-me que só integrava a equipa do Sporting se eu o continuasse a treinar e assim foi”. Este treinador, já com 70 anos ainda vive o momento da meta cheio de emoção e energia, a aposta do seu tempo e esforço com este jovem deve-se ao reconhecimento do esforço de Duarte. “Nunca passou aqui nenhum, com tanto gosto por aquilo que faz como ele”, conclui Mário Silva.
Ainda que suspensa, a Casa do Povo de Pontével facultou ao Duarte todos os instrumentos e as máquinas de musculação para ele poder treinar e, também treina no Estádio Municipal. O Duarte agora é atleta do Sporting, podia estar lá a treinar com outras condições a nível profissional, mas optou por ficar cá por atualmente estudar Gestão de Empresas no Politécnico de Santarém. “Junto o útil ao agradável e continuo a treinar aqui, até agora está a correr muito bem e estou certo de que vai continuar assim”, acrescenta o atleta.
No ano em que o atletismo da Casa do Povo de Pontével completa 60 anos de existência, encontra-se suspenso. Com a saída de Nelson Dantas em 2022, sem colaboradores na secção, com pouquíssimos atletas e sem dinheiro, a Casa do Povo de Pontével ficou com a sua atividade suspensa. Mário Silva reconhece, que ao longo destes anos, houve sempre bons e maus períodos, com mais e menos atletas e colaboradores, e apela “não vai ser fácil, mas vamos esperar que as pessoas não deixem acabar o atletismo na nossa terra por toda a história que temos assistido”.
A falta de condições e as instalações degradadas são os principais motivos para esta modalidade se encontrar suspensa, mas a juntar a isto está a falta de atletas das camadas mais jovens, neste desporto, na região de Santarém.
Para Duarte, o principal fator do atletismo em Pontével não ter atletas é a falta de condições. “Quem vai ao espaço onde nós praticamos fica logo desmotivado, é muito degradado, está cheio de ervas, terra batida e afins. Cativar, não cativa ninguém, ainda para mais esta nova geração que prefere estar em casa fechado agarrado ao computador do que a fazer desporto”, considera.
Em Pontével, sente que há muita população que ainda vive o atletismo porque gostam ou praticaram em alguma fase da vida, mas repara que são muito passivos, reconhecem os resultados obtidos por esta dupla, “mas pouco mais”. Duarte acrescenta que “é importante que as pessoas se interessem pelo desporto local porque em Pontével, está parcialmente abandonado, só há o futebol e a muito custo”.
Por reconhecer ser muito difícil a vida de atleta profissional em Portugal e, sobretudo numa modalidade como o atletismo, está a tirar licenciatura em Gestão de Empresas. Planeava acabar os estudos, porque não esperava conseguir já tão bons resultados, mas agora já está com dúvidas sobre que rumo deve seguir, deixar a universidade em pausa para ver se atinge mais resultados no atletismo, ou continuar a conciliar os dois, “o que tem sido muito difícil”, admite.