Opinião de João Fróis
O velho continente que recebeu o nome da princesa fenícia que a mitologia grega imortalizou, tem atualmente uma crise existencial, um paradoxo do qual convém sair o quanto antes.
Após décadas de crescimento lento e adesões a conta gotas, os últimos anos registaram entradas a ritmo acelerado, incorporando muitos do que antes estiveram do lado de lá da cortina de ferro e que se libertaram com a queda do muro de Berlim.
Este crescimento da União trouxe problemas acrescidos. A desconfiança russa face ao avanço a leste, as acentuadas clivagens económicas entre blocos e mais recentemente as migrações que mancharam o mediterrâneo de sangue, trouxeram mais dúvidas que certezas a um projeto que se tornou gigante e burocrata.
A crise grega e as feridas abertas pela ostracização dos países do sul, os apelidados PIGS, pelas suas dificuldades orçamentais e de cumprimento das exigentes regras de Bruxelas, agudizaram as tensões internas bem visíveis nas famílias políticas representadas no parlamento europeu. Estrasburgo tem conhecido episódios de radicalização e assistido ao desmembramento dos outrora blocos centrais dominantes. A composição reflete hoje os ventos de mudança e as ruturas sociais e culturais que vão abanando esta Europa em crise identitária. Os coletes amarelos que não esmorecem no seu ímpeto e vão abanando o Eliseu, demonstram muitas das tensões que todos os países vão conhecendo dentro de portas e que podem por em causa a União. O Brexit é uma ferida aberta e que se vai arrastando sem data de termo, pondo a nu as fragilidades políticas de governos e instituições europeias, com indefinições gritantes, anseios mal disfarçados e arrependimentos latentes. O Reino Unido está no sofá do psicanalista e ameaça arrastar a UE consigo. Os fenómenos independentistas acalmaram mas o seu potencial destrutivo está intacto. Catalunha, Lombardia, Escócia e Valónia são apenas faces de um terramoto que ameaça estilhaçar as fronteiras atuais. Com as grandes guerras estas fronteiras foram redefinidas e nos anos 90 a Iugoslávia voltou a partir-se nas velhas nações que tinha juntado. A história mostra-nos que a velha Europa sempre foi feita de guerras, tensões e revoluções e que só recentemente no pós 2ª guerra mundial foi possível serenar ânimos e fomentar a democracia, a paz social e a prosperidade económica.
Este ano há eleições para o parlamento europeu. É tudo isto que está em causa e convém lembrar que temos muito mais a ganhar com uma UE forte e duradoura do que com o seu desmembramento, imprevisível em todos os impactos mas certamente letal na perda da paz, da segurança e qualidade de vida em geral.
Saibamos honrar o nosso dever de cidadãos europeus ao valorizar esta eleição, dando voz e expressão a esse bem maior que é a liberdade de voto, tão duramente conquistada há ainda poucas décadas. Votemos pois. Sejamos europeus convictos e lutemos pela vitalidade da União.
*Artigo publicado na edição de março do Jornal de Cá.