A luta dos professores tem sido marcada pela exigência de respeito por parte da comunidade em geral. À tutela os professores exigem o fim da precariedade, melhores condições de trabalho para si e para os seus alunos, a valorização da carreira e salários ajustados ao que lhes é exigido. Assistimos a milhares de exemplos de professores precários que, ao fim de mais de dez anos de serviço (às vezes mais de vinte), continuam sem saber onde vão trabalhar depois das férias de agosto. Muitos desses professores continuam no mesmo escalão remuneratório, apesar dos anos de serviço, da formação realizada (até pode ser doutoramento) e da avaliação obtida. Ganham limpos pouco mais de mil euros, muitas vezes com despesas de habitação duplicadas e com elevadas despesas de deslocação, ou longe da família (filhos e cônjuges).
Exigem respeito por um estatuto profissional que cumprem no que concerne aos deveres profissionais, mas que lhes veda os direitos de progressão na carreira que aí estão consignados. Os professores exigem a contagem do tempo de serviço que cumpriram e que não foi considerado na íntegra aquando do descongelamento das carreiras da administração pública. Em 2019, não viram considerado todo o tempo cumprido com a justificação da equidade com outras carreiras da administração pública. Contudo, essas justificações caem por terra com o orçamento geral de Estado de 2022 e com as medidas de valorização das carreiras da administração pública que, todavia, não se aplicam à classe docente.
À sociedade os docentes exigem respeito. Respeito por quem, durante a pandemia, colocou as suas casas, os seus equipamentos informáticos e serviços de telecomunicações ao serviço da escola pública. Respeito por quem tem direito a um horário de trabalho, dia de descanso obrigatório e dia de descanso complementar. Respeito por quem tem de trabalhar antes e depois de picar o ponto, de responder a telefonemas, emails e sms’s fora do horário de trabalho.
Os professores são profissionais altamente especializados cujo perfil de competências obriga a saberes tão especializados e diversos como saber científico nos vários domínios das aprendizagens essenciais da área curricular de recrutamento, saber pedagógico, saber didático no que diz respeito ao desenvolvimento das aprendizagens, conhecimentos de psicologia, em neurociências, em metodologias de projeto, competências digitais e, naturalmente, conhecimentos atualizados nas áreas mencionadas. Por isso os professores exigem respeito a quem pensa que a escolha da profissão é uma segunda escolha, ou a quem, levianamente, exige que ensine desta ou daquela maneira só porque sim.
Os professores exigem salas de aula com equipamentos que funcionem. Os professores exigem tempo de trabalho para formação e para trabalhar em equipa, em conciliação com o tempo da família. Os professores exigem mais tempo para dedicar à preparação e à avaliação das aprendizagens dos seus alunos.
Os professores pertencem a uma carreira especial porque sabem que o seu papel no desenvolvimento dos cidadãos é insubstituível. Os professores sabem que o seu trabalho não é das nove às cinco e que, para cumprir as exigências crescentes, 35 horas semanais não bastam.
Os professores têm muitas razões para exigir respeito. E também para se dar ao respeito, com profissionalidade e com consciência do seu papel social. Para tudo na vida é preciso paciência, mas a paciência tem limites. Saibamos todos – mas todos mesmo – agir com bom senso e no respeito pelos limites da paciência.