As comemorações do 25 de Abril, que este ano assinalou 46 anos, decorreram online, nas redes sociais e canais digitais do Município do Cartaxo.
Estas comemorações arrancaram na noite de 24, com o espetáculo ‘Todos Somos Abril’, que reuniu os contributos de dezenas de cartaxeiros com música, poesia e testemunhos na primeira pessoa, e prosseguiram com a tradicional sessão solene, já no dia 25, com os tradicionais discursos políticos que a ocasião impõe completamente dominados pela pandemia de Covid-19.
Uma sessão solene que reuniu, online, “cinco forças políticas que representam cinco visões distintas, cinco vozes de Abril, cinco vozes democráticas que se juntaram para falar da Revolução dos Cravos, para transmitir aos cartaxeiros de todas as nossas freguesias a mensagem política que o momento que atravessamos exige de cada um de nós. E essa é uma mensagem muito clara: para lá de tudo o que nos possa separar, enquanto cidadãos livres, enquanto militantes de causas e de ideais, existe um compromisso com a Democracia e com a Liberdade que nos une – pluralismo democrático, é esta a força da nossa Democracia”, começou por salientar Pedro Ribeiro, presidente do Município.
Até porque “cumprir Abril, hoje, é seguir o exemplo de todos aqueles nossos concidadãos que estão na linha da frente no combate ao Covid-19”, mas também a solidariedade e espírito de entreajuda que os cartaxeiros têm demonstrado. “Os cartaxeiros, sempre que solicitados, disseram sempre presente. E cumprir Abril é isto”, realçou o autarca.
A terminar, Pedro Ribeiro apelou à união, dizendo que “precisamos de todos. E aqui, como tenho dito, quando tivermos a nossa vida de volta, vamos mesmo precisar de todos. Temos muito por fazer pelo próximo. Nas palavras de Zeca Afonso, façamos todos, da nossa terra, a terra da fraternidade, em que em cada esquina encontramos um amigo, na ajuda que vamos dar ao comércio local que está a passar bastante mal, a todos aqueles serviços – o cabeleireiro, o barbeiro – onde, em cada esquina encontrámos sempre este amigo de que fala a letra de Zeca. Em cada rosto igualdade, não deixar ninguém para trás, tratar todos por igual, portugueses, indianos, chineses, tratar todos aqueles que na nossa comunidade encontramos em cada rosto essa igualdade. As palavras do Zeca são a voz do nosso sonho, a voz do sonho de Abril, a voz de cada um de nós, a voz da esperança que nos alimenta e motiva pelo bem, a voz das conquistas de Abril, e aqui destacamos o Serviço Nacional de Saúde, o melhor sistema de saúde que podíamos ter, um dos melhores do mundo na forma como cuida de cada um de nós, como semeia o amor ao próximo”.
Augusto Parreira, presidente da Assembleia Municipal, começou por expressar “reconhecimento e gratidão aos seus principais autores, os Capitães de Abril, e a congratulação pelo significado que esta data tem no início da liberdade e de uma vida em Democracia para todos os portugueses”. Não obstante, 46 anos depois, “é fundamental repensar Abril, hoje e sempre. Relembro que Abril é um dia e um lugar fantástico, onde mora a esperança e o sonho de tudo ser possível. Contudo, há alguns desafios que ainda nos faltam alcançar e a situação de emergência por que estamos a passar é a prova de que falta cumprir Abril. Encontramos nos nossos governantes uma inquestionável vontade de corrigir as desigualdades, devolver esperança a um povo ferido, recuperar para a Europa o sentido solidário de outros tempos”. Desta forma, “para que Abril não seja uma efeméride virtualista, é nosso dever relacionarmo-nos com o futuro de modo estratégico, recusando conformismos neste tempo de algumas incertezas”.
Augusto Parreira salientou, ainda, “o papel do poder autárquico, na consolidação da Democracia e da qualidade de vida dos portugueses. No nosso concelho, os autarcas têm sido incansáveis e têm tido a preocupação de concretizar, no dia a dia, os valores de Abril e, por isso, têm trabalhado permanentemente para garantir os objetivos que todos consideram prioritários: o bem-estar, a segurança, a coesão social e a promoção da qualidade de vida dos nossos concidadãos, bem patente nestes últimos dois meses, dando e criando respostas para o combate a este que tem sido o seu e o nosso maior desafio. O poder autárquico, um dos pilares de Abril, tantas vezes mal-tratado, tem-se revelado fundamental no combate à Covid-19, assegurando às populações as condições necessárias para que a vida decorra com a normalidade possível”.
Pelo MIP (movimento Independente Pluralista), Margarida Jarego começou por realçar a importância de relembrar os valores e ideais de Abril. “Hoje, mais do que nunca e no contexto em que nos encontramos, faz todo o sentido lembrar e honrar todos os que lutaram por Abril e tornaram possível estarmos aqui, hoje para falar, recordar, reviver e apelar a todo para que Abril, os seus ideais e valores, não sejam esquecidos. Mas, também, hoje faz cada vez mais sentido porque é tempo de recordar, homenagear e honrar todos os que, no atual contexto, lutam para salvar e salvaguardar a saúde, o bem estar e a integridade física e pessoal de todos nós”, realçou.
Margarida Jarego acrescentou que “neste contexto, é tempo de recordar e reconhecer que ser livre também é ser responsável, é reconhecer que a nossa liberdade não é ilimitada, pois que termina onde começa a liberdade dos outros. E saber reconhecer e respeitar isso é, isso sim, ser verdadeiramente livre”, desejando “que este momento nos permite reaprender a ser livres”.
Pelo Bloco de Esquerda, Francisco Colaço recordou as propostas do partido para o combate à pandemia, como a criação de redes solidárias para apoio à população, o reforço da higienização dos transportes coletivos ou a criação de linhas locais para apoio psicológico, entre outras.
José Barreto, pela CDU, realçou que as comemorações dos 46 anos do 25 de Abril encontram-nos “numa situação estranha. Fruto de uma pandemia, encontramo-nos confinados em casa, uns sem trabalho, outros com dificuldades na realização do seu trabalho e, sobretudo, na impossibilidade de comemorar-mos o 25 de Abril na rua, como todos gostaríamos de o fazer. Mas, fruto desta pandemia, ao contrário do que muitos dizem, não estamos todos no mesmo barco. O barco não é propriamente o mesmo para quem recebe um salário cortado em um terço, para quem tem um salário garantido ou para quem nem sequer tem salário”. A situação de desigualdade vem-se agravando, considera a CDU, “para quem trabalha, e especialmente para os micro e pequenos empresários”. Desta forma, “toda esta situação leva-nos a pensar o que seria se não tivesse acontecido o 25 de Abril. Imaginemos nós o que seria da população portuguesa se não vivêssemos em Democracia? Imaginemos nós o que seria viver sem o Serviço Nacional de Saúde que temos?”.
João Heitor, pela coligação Juntos Pela Mudança (PSD/NC), destacou a singularidade destas comemorações, em que “celebramos a liberdade num contexto único para todos, num contexto único desde que o nosso País vive em Democracia. Celebramos a liberdade quando, pela primeira vez em Democracia, nos vemos, de alguma forma, privados dela, devido ao Estado de Emergência em que vivemos atualmente”. Realçando as conquistas de Abril, que devem continuar a ser celebradas, João Heitor deixou, no entanto, um aviso: “tendo em atenção o momento em que vivemos, no contexto da pandemia de Covid-19, a realidade que vivemos nos últimos anos poderá ser colocada em causa, pelo elevado impacto que a forma como somos obrigados a lidar com este vírus tem nas relações entre pessoas, mas, acima de tudo, pelo impacto que esta pandemia está a ter, e terá, na nossa economia, colocando em causa a sustentabilidade das famílias, empresas, IPSS’s ou outras associações”. Por isso, o tempo não é de populismos ou de aproveitamentos políticos, considerou João Heitor, apelando à responsabilidade de todos.
Pelo PS, Vera Maximiano sublinhou as comemorações “inéditas” do 25 de Abril, ao mesmo tempo que disse que “é preciso celebrar, porque há uma liberdade da qual temos saudades, mas que sabemos que está apenas a algum tempo de distância. Temos de readquiri-la logo que possível. É importante celebrar porque as instituições são a base do Estado Democrático”.
Perante a crise económica e social que já se instalou, a “solidariedade terá um papel decisivo na União Europeia”. Uma palavra que “tem novo significado e nova dimensão. A solidariedade terá de ser a substituta da liberdade coletiva que ainda não readquirimos”.