Coisas da Economia de cá e de lá, por Renato Campos
Sendo as cheias um flagelo, em termos económicos e sociais, pelos evidentes prejuízos que causam no património colectivo e individual das povoações e habitantes, o certo também, é que a actual poluição do rio Tejo, largamente noticiada, sobretudo (mas não só!) com origem, sabe-se hoje, em descargas poluentes de natureza industrial, constituem gravíssimas agressões ambientais com efeitos catastróficos em toda a sua bacia hidrográfica. De tal maneira é a amplitude do problema, que até do Espaço se podem ver as enormes manchas brancas de poluição, provenientes de efluentes que vão transformando o leito do rio num terrível pesadelo de destruição e de morte.
Ninguém, responsavelmente, pode ignorar a importância da bacia hidrográfica do Tejo para o desenvolvimento sustentado da região ribeirinha. Lembra-se que abrange uma superfície administrativamente repartida por 88 municípios, com cerca de 28.000 km2 onde habitam mais de 3,5 milhões de pessoas. Em termos produtivos o seu território é responsável por cerca de 40% do produto agrícola bruto do continente, viabilizando 39% dos agro industriais nacionais. Também a actividade piscatória, se bem com decrescente peso económico e afectada por estes problemas, constitui ainda hoje, um complemento fundamental para o sustento de muitas famílias da borda d´água. Importa ainda, realçar as potencialidades turísticas que o rio e as suas margens representam, como valorização do espaço rural e de um turismo de lazer e de recreio. Todas estas actividades se agregam numa diversificação integrada, onde sobressai a enorme riqueza ambiental de toda a bacia hidrográfica do Tejo, geradora de múltiplos ecossistemas indispensáveis ao equilíbrio da vida humana a animal na região.
Daí, a justificação e importância destes alarmes. Segundo notícias actuais, a Espanha continua a efectuar transvases do caudal do rio Tejo para outras bacias situadas a sul. Claro, que a simples redução do caudal de água de um dos principais rios ibéricos, não é assunto pacífico e poderá ter a jusante, graves e diversas consequências. No actual contexto de crimes ambientais, a redução do volume do caudal normal do rio, potenciará as consequências gravíssimas, não só afectando a fertilidade dos terrenos, como também, para a saúde pública e como factor negativo da qualidade do abastecimento de água às populações.
Ou seja, e é bom ter presente, que se pela sua dimensão e localização geográfica, a Bacia Hidrográfica do Tejo constitui o eixo condicionante e indutor do desenvolvimento de uma grande região que abarca a capital do país, também por isso mesmo, mais se justifica que os seus problemas, nomeadamente a regularização dos caudais do rio e os inaceitáveis atentados ambientais que se vêm verificando, devam alertar e mobilizar, de imediato, os governantes, autarcas e agentes de desenvolvimento da região. É inadiável a tomada de medidas, urgentes e vigorosas, na defesa de tão valioso património natural.