Inserida nas Festas da Cidade do Cartaxo, decorreu mais uma Corrida de Touros numa parceria da Junta de Freguesia e da empresa Tauroleve enaltecendo, mais uma vez, a atribuição do nosso fandango ribatejano a património mundial.
Numa noite de verão e de temperatura agradável, verificou-se na Praça uma boa moldura humana a mais de meia casa e onde o cartel prometia um bom espetáculo, sendo de realçar os toiros da prestigiada ganadaria Dr. António Silva.
Logo no primeiro toiro, Luís Rouxinol apresentou, mais uma vez, o seu toureio de cavaleiro maduro com ferros de recortes técnicos de difícil execução, que nunca defraudam o público. Mesmo apesar do segundo toiro que lhe calhou em sorte apresentar uma debilidade física, que tirou brilho à sua exibição esforçada.
Os segundo e quarto toiros da noite foram lidados pelo cavaleiro algarvio Filipe Gonçalves, que se expressou de forma emotiva mas pouco clarividente e desinspirada, com exibições irregulares, nunca explanando o suficiente, na minha singela opinião, para levantar de pé a afición tauromáquica.
Por fim Parreirita Cigano, jovem cavaleiro da nossa Terra, de quem sou crente e convicto que tem pela frente um forte potencial para ficar no topo dos melhores cavaleiros tauromáquicos em Portugal, mas que nesta corrida acusou a emoção de tourear na sua Terra, onde teve sempre o apoio incondicional vindo das bancadas.
Nos dois que lhe saíram em sorte não se deu bem com toiros difíceis, que se adiantavam, e onde as montadas não colaboravam, mas sempre demonstrando, a espaços, a sua genialidade com os melhores ferros da Corrida. Assim se faz o caminho, trabalhando e acreditando que será uma questão de tempo para espelhar o seu real valor, já demonstrado em várias ocasiões.
No tocante às pegas, o grupo de Vila Franca de Xira, do cabo Ricardo Castelo, teve no quinto da noite a pega mais difícil, um toiro salgado de cante e comportamento, só concretizada à 5ª tentativa por Guilherme Dotti, que entrava muito nos terrenos do toiro, sendo fatal nas reuniões, onde só um grupo com escola e valor conseguiu dar a volta às dificuldades apresentadas.
Nos outros dois toiros que enfrentaram, Rui Godinho pegou à 1ª tentativa um pouco fora da cara mas com garra, conseguindo corrigir em longa viagem, e Rui Silva, que efetuou uma grande pega suportando derrotes na córnea, numa viagem cheia de alma e garra bem consumada.
No grupo da Terra, Bruno Rodrigues, que já tinha efetuado uma boa pega na Benedita, desta vez recuou um pouco de forma deficiente e não se conseguiu fechar, tendo a infelicidade de não se poder emendar, pois teve de recolher à enfermaria. Desde logo com grande brio, determinação e responsabilidade, sinónimos que se impõem num cabo de Grupo, Bernardo Campino prontificou-se a dobrar, fechando-se muito bem com a 1ª ajuda dada pelo seu irmão e a fantástica coesão do restante Grupo.
A melhor pega da noite, na minha opinião, foi para Tiago Carmo. Num grau de dificuldade muito elevado, pois o toiro veio sempre com a cara para baixo, e só com muita garra e querer do cara e de todo o Grupo foi concretizada à 1ª tentativa, refletindo o patamar alto onde o Grupo já se encontra, evidenciando uma boa maturidade para quem foi reativado há tão poucos anos. Para cimentar esta opinião veio a excelente pega, a fechar a corrida, do forcado José Ribeiro. Num toiro com muita velocidade, a empurrar com ímpeto, dificultando no final com derrotes, mas incapaz de desfazer perante a grande solidez e entreajuda do Grupo com mais uma boa 1ª ajuda do forcado Duarte Campino.
Para o final deixo duas críticas que, desde sempre, serão construtivas na sua interpretação para que em futuras ocasiões não se devam repetir: a primeira à organização da corrida que, no seu final, permitiu a apresentação de um toiro com um corno partido para João Martins prestar provas de bandarilheiro na alternativa dada por Manuel dos Santos, consumada onde evidenciou técnica e experiência de capote e bons pares de bandarilhas mas que perdem toda a verdade na incapacidade física do toiro. A segunda critica, que não posso deixar passar em claro, vai para a organização das festas da cidade que programou à mesma hora da corrida um espetáculo musical mesmo ao lado da Praça, num som de centenas de decibéis que ecoavam durante a corrida numa falta de respeito, quer pelos aficionados que pagaram o seu bilhete, quer pelos intervenientes.
- Este artigo foi publicado na edição de julho do Jornal de Cá e, por lapso, foi cortada parte do final do texto, que aqui publicamos na íntegra. Ao autor e aos leitores, deixamos as nossas desculpas.