Finalmente o Tejo nas propostas autárquicas

Opinião de Renato Campos

Como escreveu Araújo Correia no seu ensaio sobre «O Tejo», “… o rio é como um cavalo selvagem, indómito, impetuoso, cheio de vida, o destruidor. Domesticado, pode ser, um servidor leal, paciente, utilitário, produtor do bem-estar das populações ribeirinhas e valioso auxiliar nas economias nacionais”. Ainda mais adiante, o autor, depois de mencionar que o integral aproveitamento do rio Tejo depende da inteligência e do labor dos homens, recorda que, de todos os cursos de água nacionais o Tejo é justamente aquele que poderá ter mais variadas utilizações.

Em boa hora, o atual Presidente da Câmara do Cartaxo, Dr. Pedro Ribeiro, na apresentação do seu projeto de candidatura a um novo mandato, relevou o Tejo como um eixo estruturante e prioritário do modelo de desenvolvimento que propunha para o concelho. Para nós, que há muito tempo andamos a escrever sobre a extraordinária importância que a bacia hidrográfica do Tejo possui para o desenvolvimento da região, não poderíamos estar mais de acordo.

Importa lembrar que na bacia hidrográfica do Tejo, em território português, vivem cerca de 3,8 milhões de habitantes e que em termos produtivos, este território contribui com cerca de 41% do Produto Agrícola total do Continente.

Ultimamente, para além dos atentados ambientais que o rio tem sofrido impunemente ao longo dos anos, muito se tem falado do perigo da central nuclear espanhola Almaraz, que utiliza parte do caudal do rio para arrefecer os reatores. Isto, de facto é preocupante, e tem aglutinado populações e políticos da região na defesa do Tejo nacional. Mas não basta apenas reivindicar a qualidade e a segurança ecológica das suas águas, nem subestimarmos o perigo nuclear. Na verdade há que saber o que queremos fazer na Bacia Hidrográfica. Nomeadamente, aspetos importantes como a viabilidade económica do seu processo de regularização; qual o melhor aproveitamento piscatório e hidroagrícola dos terrenos marginais; qual a utilização agrícola mais viável dos “terraços do Tejo” (terrenos acima da cota 100); quais os aproveitamentos com rendibilidade económica e os efetivos consumos industriais e agroflorestais de água; quais as necessidades de água nas próximas décadas; quais as múltiplas consequências da aplicação, do Plano Hidrológico espanhol, no troço nacional do rio; quais os eventuais aproveitamentos turístico – culturais das margens ribeirinhas, etc, etc..

É evidente que o município do Cartaxo, integrando a sua bacia hidrográfica, é parte ativa em todo esse processo, e se souber explorar as suas dinâmicas e potenciar as suas virtualidades, o Tejo poderá constituir um elemento estruturante do desenvolvimento integrado do território concelhio. Porque não, em termos simbólicos e estimulantes, um “Alqueva tejano” que valorize a diversidade de potencialidades desta região?

Pedro Ribeiro tem razão ao dar o devido relevo estruturante ao rio Tejo, que até hoje muito pouco o temos sabido aproveitar.

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Artigo publicado na edição de agosto do Jornal de Cá.

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