Para além das fronteiras que nos limitam os países, temos fronteiras que nos limitam a educação, a cultura, o gosto e muito mais. Muitas destas fronteiras são-nos impostas, muitas vezes com arame farpado, muros altos de cimento e ferro, estacas e madeira, outras vezes, somos nós que impomos essas fronteiras, somos nós que as cultivamos, somos nós que as abraçamos. Muitas vezes impomos essas fronteiras a outros ou fazemo-las crescer para nós mesmos e vivemos dentro dessas linhas imaginárias que criamos onde habitamos dentro de uma falsa segurança.
Muitas vezes (quase sempre) só quando fazemos cair as fronteiras, quando quebramos as linhas que nos prendem, que fazem de nós prisioneiros e que fazem com que tenhamos os outros no nosso primitivo cativeiro, é que conseguimos ter horizonte. Esse horizonte tão essencial para respirar, para compreender, para estar, para viver, para criar.
As nossas fronteiras são falsas, as nossas distâncias não são reais. Os espaços que temos em comum devem ser cada vez mais aproveitados para discussão de ideias, para a compreensão, para o debate, para o uso da comunidade enquanto grupo dinâmico e activo e os palcos são, sem dúvida, um dos espaços comuns que mais actividade deviam ter neste momento, no que respeita ao estreitar comunidades e rasgar das fronteiras.
No entanto, os nossos palcos definem um outro rumo, altas fronteiras de arame farpado e muros de cimento se erguem à porta de cada uma das salas de espectáculos, cada uma içando a bandeira de uma soberania em nome de egos que cantam hinos que poucos querem ouvir.
*texto escrito sem o Acordo Ortográfico