Fuga de cérebros ou mobilidade de talentos?

Opinião de Jorge Honório

“Num mundo globalizado, tal como é hoje o nosso, surgiu um novo modelo de emprego: a mobilidade. Trata-se de uma nova realidade que afeta fundamentalmente os países com economias mais frágeis e que valoriza as dos países mais apetrechados e com capacidade mobilizadora e de atracção de mão-de-obra, designadamente a mais qualificada em termos técnicos.”

Este trecho do editorial da revista Ingenium, Ordem dos Engenheiros, setembro – outubro de 2014, e os artigos subsequentes da revista, revelam a profunda preocupação com que a Ordem vê esta realidade. Numa Europa já desigualada, com fluxos sempre no sentido do reforço das vigorosas economias do centro e norte em detrimento das economias mais débeis do sul, o agravamento dos desequilíbrios tende a acentuar-se.

Mas este problema não se resolve por decreto ou construindo “muros da vergonha”. A saída de engenheiros e/ou de outros trabalhadores qualificados constitui uma agrura para o País, que, no entanto, poderá ser minimizada se tivermos abertura de espírito suficiente para a encararmos não como uma “fuga de cérebros”, mas sim como uma “mobilidade de talentos” e atuarmos em conformidade. Temos de nos tornar atrativos e deixarmo-nos de lamentações.

Vivemos estes últimos 20 anos num mundo em constante e rápida mudança, num mundo muito mais global, competitivo e complexo que outrora, com novas “regras do jogo”. Neste ambiente, aquilo que há de mais natural é encontrarmos talentos portugueses em Madrid e espanhóis em Lisboa, talentos portugueses em Tóquio e japoneses em Lisboa. Porquê? Porque cada vez mais o conhecimento é móvel e global; hoje em dia, a normalidade é que os estudantes falem corretamente dois ou mais idiomas, acabem os cursos e procurem emprego em cidades profissionalmente atrativas e com boa qualidade de vida, onde quer que seja.
Por outro lado, as novas tecnologias aproximam as pessoas e as empresas (veja-se o recurso à Internet e ao Skype), os voos ‘low cost’ possibilitam viagens internacionais mais baratas e rápidas do que ir de Lisboa a Bragança em automóvel, etc. – são agentes facilitadores da mobilidade! Nestes tempos modernos temos de estar mentalizados para a mobilidade porque necessitamos de estar no sítio onde o trabalho existe e não o contrário. Há 20 anos atrás, dávamo-nos por satisfeitos em viver neste retangulozinho à beira mar plantado: hoje fruímos como cidadãos do Mundo. Goste-se ou não!

A saída de engenheiros e/ou de outros trabalhadores qualificados constitui uma agrura para o País, que, no entanto, poderá ser minimizada se tivermos abertura de espírito suficiente para a encararmos não como uma “fuga de cérebros”, mas sim como uma “mobilidade de talentos” e atuarmos em conformidade. Temos de nos tornar atrativos e deixarmo-nos de lamentações.

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