Formaram o grupo de baile muito jovens, ainda mal sabiam tocar, mas já tinham tudo delineado. A celebrarem o 20º aniversário, os Geração 21 já são uma referência nas festas do concelho e arredores, entre outras zonas do País
A cumprir 20 anos de existência, o grupo G21 promete celebrar em grande, em 2018. “Durante o ano vai haver, pelo menos um evento de comemoração, mas até poderá vir a haver mais coisas que vão compor as comemorações do 20º aniversário!” Quem o diz é Mauro Silva, um dos fundadores do grupo, à conversa com o Jornal de Cá e mais dois dos fundadores dos G21, o técnico de som, João Paixim, e o baixista, Fernando Reis. Não foi possível reunir todos os elementos do grupo, que fica completo com “o outro elemento que falta aqui e que consideramos como base do grupo que é o guitarrista João Silva, faltam as duas vozes – o Domingos e a Lena Conde – e o baterista Pedro Almeida”, apresenta o teclista Mauro Silva.
Mas nem sempre foi esta a composição do grupo. “No projeto inicial éramos todos de Vila Chã de Ourique, entretanto saíram três e entraram outros três que já não são de Vila Chã de Ourique, mas são do concelho e arredores”, conta Mauro Silva. O que sempre se manteve, desde o início, foi a vontade de crescer mais, de querer sempre fazer melhor, com profissionalismo e sem amarras. Atualmente, “enquanto banda somos completamente autónomos”, revela o músico. “Não somos exclusivos de nenhum agente, foi uma coisa que sempre quisemos fazer de início”, justificando isso com “o âmbito do projeto desde a formação. Sempre quisemos ter a liberdade de sermos nós a definir os preços, sermos nós a escolher os reportórios…”, sem estar sujeitos a certas obrigações decorrentes de um contrato de exclusividade.
Quando entraram nesta aventura eram muito jovens, com 15, 16 anos. Mas pode dizer-se que já eram jovens empreendedores, focados num objetivo com perspetivas de futuro. “Eu acredito que estávamos ainda numa geração de transição”, diz Mauro. Recorda-se que tudo “começou com uma brincadeira. Três ou quatro lembraram-se de ter uma banda, foram falando com os outros”. Mauro tinha um teclado e “já tocava alguma coisa de ouvido” e “para além de mim havia um ou dois a aprender a tocar guitarra. Praticamente ninguém sabia tocar mas tínhamos já tudo definido, começámos logo a delinear tudo o que queríamos fazer, nomeadamente as estruturas para os equipamentos em palco, ainda antes de nos preocuparmos muito com o saber tocar”, lembra o músico, entre risos.
Como jovens que eram, no início ainda houve a tentação de tocarem música rock, “mas depois não tínhamos material nenhum e precisávamos de dinheiro”, conta Mauro, justificando a escolha de se lançarem na música de baile. “Ninguém pagava nada num bar para lá irmos tocar ou pagavam muito pouco, nos bailes as pessoas ainda pagam. Nessa altura os bailes ainda tinham alguma adesão e nós fomos por aí”. O reportório não é original. Uma lacuna, considera Mauro, adiantando que já pensaram compor temas originais, mas que “por uma razão ou por outra, houve sempre aqui outras coisas que nos fizeram ter que apostar o nosso tempo noutras situações”. A seleção musical parte de sugestões de todos, “somos muito liberais”, afirma o teclista, adiantando que “tentamos tocar um bocadinho de tudo para agradar a todas as pessoas que estão nas festas. Começamos com música de baile, depois vamos colocando ali umas kizombas e músicas brasileiras pelo meio, depois rock, nacional e estrangeiro, e para o final umas músicas mais para o pesado, de modo a que se consiga manter várias faixas etárias na festa”.
Ainda levou algum tempo até começarem a tocar em público, com alguns dos elementos a ingressarem em escolas de música. “A primeira vez que tocámos foi numa festa particular de fim de ano”, entre amigos. A seguinte seria numa matiné de carnaval em Vila Chã de Ourique. A partir daqui foram tocando em sítios onde tinham pessoas amigas e, aos poucos, começaram a ser conhecidos e a ser contratados para festas – “com a ajuda de alguns agentes aqui à volta” – nalgumas das quais ainda continuam a fazer parte do cartaz. “Quando começamos a trabalhar de uma forma mais profissional, começamos logo a receber contratos para todo o lado”, conta Mauro. “São Martinho do Porto, foi logo das primeiras, mas fomos também para Sintra, fomos muito para a zona de Abrantes, que é uma zona onde ainda trabalhamos muito. E foi logo assim, começamos mais na zona centro, mas tivemos sempre contratos por todo o lado. Tocávamos em qualquer lado”. Atualmente, trabalham de norte a sul do País, se bem que a maioria dos contratos concentra-se mais na zona centro – Alto Alentejo, Abrantes, Castelo Branco… No Cartaxo e arredores também não têm sido poucas as atuações. Este ano fizeram cerca de 30 espetáculos e, pela primeira vez, tocaram em todas as festas do nosso concelho. Em 2016 tiveram o privilégio de tocar no palco principal da festa de Vila Chã de Ourique, numa produção maior do que a habitual, envolvendo uma orquestra, com o maestro Mesquita e vários músicos profissionais, assim como as coletividades da terra, numa encenação que marcava a história e os valores da freguesia. “Foi um espetáculo completamente fora do vulgar e um momento importante da nossa evolução”.
Todo este percurso, ao longo de quase 20 anos e com mais de 300 atuações, foi um crescendo, trilhado sempre com o objetivo inicial: divertirem-se a fazer o que gostam, procurando fazer sempre melhor. Daí que “nós ao longo destes anos todos, se calhar, 90 por cento do dinheiro que fizemos foi sempre investido na banda. E só assim é que conseguimos ter total autonomia, a nível do som, de luzes, de transporte”, refere Mauro, acrescentando que “foi sempre à custa do trabalho próprio, nunca houve investimento de ninguém externo da banda, obviamente que a dada altura tivemos ajudas dos nossos pais e das nossas famílias para nos ajudar a arrancar, dinheiro que depois foi restituído, e daí para a frente foi sempre com capitais próprios. Compramos quando podemos comprar e daí que tenhamos tido um crescimento sustentado pelo nosso trabalho”, reconhece o músico. “Começámos do zero e vimos as coisas a crescer”, refere João Paixim que acha que, na altura, foi fácil serem tão “contidos e organizados porque toda a gente tinha a mesma ideia, não houve ninguém que quisesse fugir daquele caminho. Nós queríamos ter o nosso próprio material e, às vezes, ao vermos entrar algum dinheiro até podíamos ter essa tentação, mas a nossa vontade para que o projeto avançasse era tão grande…”, lembra o técnico de som.
Toda a experiência acumulada nos eventos aliada à qualidade do equipamento que foram adquirindo deu-lhes a possibilidade de produzirem outros eventos que não os do Geração 21. “Assim que tivemos material surgiu essa hipótese, até para rentabilizar a aparelhagem”, diz João Paixim, que faz questão de dizer que “gostamos sempre de fazer essa produção”. Isto porque a qualidade do trabalho e do equipamento começava a chamar a atenção das pessoas no meio. “Começaram a solicitar-nos orçamentos para fazer a sonorização em eventos, como a Festa do Vinho ou a Feira dos Santos, festas aqui no concelho, e até fora, em que precisavam da sonorização para os dias todos da festa e nós como tínhamos que montar para o dia da nossa atuação dávamos o orçamento para os dias todos da festa”. E, assim, começaram a fazer eventos de maior escala, sendo que, de há dois ou três anos para cá, é que começaram a fazer produção completa de eventos.
De ano para ano, sentem que “há uma responsabilidade acrescida de compromisso com o público, toda a gente já espera que no ano a seguir não só mantenham aquele nível mas que sejam melhores”, diz Mauro. “Isto é assim porque nós somos assim: gravamos os concertos e analisamos as falhas e temos consciência de que o produto final foi bom, mas também temos esta vontade de fazer melhor e tentar investir em mais material, porque temos que estar ao nível dos outros”, reconhece o teclista, acrescentando que “esta preocupação que vem desde o início está cá, não conseguimos fugir dela. Vamos agora fazer uma reunião de fim de tour, como fazemos sempre, para avaliar tudo e vamos começar a trabalhar na próxima”.
Os Geração 21 fecharam o ano de 2017 com chave d’ouro, em outubro, o grupo conquistou o Prémio Cartaxo d’Ouro na categoria Cultura.
Para celebrar o seu 20º aniversário entre amigos, conhecidos, fãs e quem mais queira juntar-se à festa, no próximo domingo, dia 13 de maio, pelas 11h30 é inaugurada uma exposição comemorativa dos 20 anos da Banda, na antiga sede da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique.
O evento vai contar ainda com a atuação dos Geração 21 pelas 15 horas.