Esperança, e revolta são sentimentos que dominam este início de 2015. E saudades. Saudades de nós, povo livre e nação valente.
Esperança no fim deste governo, no fim do empobrecimento do país. Esperança que deixem de nos culpar a nós, trabalhadores, enquanto salvam banqueiros num espectáculo degradante. Esperança em mudanças numa Europa que tem sido mais espaço de imposições dos fortes aos fracos do que espaço de cooperação e de solidariedade. E o actual governo português, reverente, apressa-se a dizer que “não somos gregos”. Eles talvez possam usar cartazes dizendo “Eu sou o FMI”! A vitória do Syriza na Grécia prova-nos que a mudança depende de nós e que não há caminhos únicos.
A revolta, sinto-a pelo folhetim, transmitido em directo nas Tvs, da comissão parlamentar de inquérito ao BES (cujas perdas vamos pagar nós, pois claro), e em que, de vez em quando, nos episódios que poderiam dar-nos mais informações sobre a “intriga” da novela, fazem audiências à porta fechada, sobre as quais nada sabemos. Se já se viu! Que triste espectáculo. Que desprezo pelos cidadãos. Dão-nos a novela com episódios censurados.
A revolta chega das ditas “facturinhas”, em que o governo, a pretexto do controle do pagamento de impostos, quer fazer de cada um de nós um “agente de cobrança”. Criem os mecanismos de controlo que entenderem para que todos paguem, mas comigo não contam para policiar os outros. Não posso deixar de me lembrar das sinistras figuras dos informadores da PIDE que corroíam a nossa liberdade. E prometem-nos carros sorteados e descontos no IRS. Deprimente. Controlar o café, a fruta, o jornal e mais o quê??? NÃO! É assim que voltam os fascismos “naturais” e mesquinhos, é assim que se viram as pessoas uma contra as outras, é assim que o governo ofende a nossa liberdade.
A felicidade não vem só do dinheiro e do bem estar, vem do respeito e da dignidade cidadã.
É claro que todos devem pagar, bancos, grandes empresas e ricos incluídos – em vez de levarem as suas sedes para outros países em que pagam muito menos, depositarem o dinheiro em bancos fora do país, donde volta a parte que bem entendem ao abrigo de “perdões fiscais”– mas esse é um trabalho da administração e da inspecção, nem é meu nem é seu.
A felicidade não vem só do dinheiro e do bem estar, vem do respeito e da dignidade cidadã. Para nós, como povo, dinheiro e bem estar vão mal. Basta ver a saúde neste inverno. Esta semana um conhecido disse-me que “as pessoas que têm morrido nas urgências já são de uma certa idade”. Hoje, em Portugal, ser “idoso” é estigma. Grave, muito grave. E perigoso.
E a dignidade? Os gregos já ganharam a deles. E nós? Quando diremos “NÃO”?