Opinião de Ricardo Magalhães
Nas últimas semanas deu que falar a história de Miguel Duarte, o jovem português que ajudou a salvar milhares de vidas no Mar Mediterrâneo e é agora acusado pelo governo italiano de compactuar com a imigração ilegal. A frase “Quando vejo uma pessoa a morrer afogada não lhe pergunto se tem passaporte. Tiro-a da água.” emocionou o país.
Ora, ler sobre aquilo que foram estes últimos anos de vida do Miguel deixou-me com aquele sentimento de que os heróis existem e são pessoas como nós. O Miguel é um deles. Dedicou a fase mais recente da sua vida a ajudar os outros de forma puramente altruísta, sem pedir nada em troca a não ser o seu sorriso, gratidão ou abraço, pondo para isso inclusivamente a sua vida em risco.
Perante isto, não vou perder tempo a falar de gente bárbara, cruel e desumana que vê friamente pela janela os milhares de pessoas que morrem todos os dias às portas da sua casa. Prefiro guardar as linhas que tenho para homenagear e dignificar outros heróis como o Miguel, com a esperança de que inspirem cada um de vós a mudar também o mundo que vos rodeia, independentemente do seu tamanho.
Começo por vos contar a história do Miguel Pavão, ele que em 2012 foi distinguido com o prémio “Herói do ano” pela revista Visão. O Miguel é um jovem dentista, fundador da ONG “Mundo a Sorrir”. Este é um projeto que procura garantir o acesso dos mais carenciados à saúde oral e tinha, à data, já mais de 550 associados (entre médicos dentistas e higienistas orais). O Miguel conta com milhares de quilómetros por todo o país, em que realizou mais de 30 mil rastreios e 7 mil consultas. A atividade da associação estende-se até Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé. É tão bonito como põe, literalmente, tantas pessoas a sorrir!
De seguida, destaco o Diogo Faro pelo comportamento que tem assumido na defesa do feminismo. Primeiro que tudo, sendo homem, o Diogo mostra desde logo que o feminismo é para todos. Criou vídeos com entrevistas na rua em que expõe a ignorância que muitos ainda têm sobre o tema e onde são notórios muitos dos ideais machistas que ainda minam a sociedade, mesmo entre os mais jovens. Lançou um movimento no Facebook em que desafiou raparigas jovens e adolescentes, que tivessem sido de alguma forma assediadas no passado, a partilharem anonimamente as suas histórias, gerando assim uma plataforma de partilha de vivências e apoio a quem sofreu com a discriminação. Para além disso, o Diogo criou também o #nãoénormal, um movimento nas redes sociais em que procura sensibilizar o seu público para o crime que é a violência doméstica e desmistificar alguns dos mitos a ela associados. O vídeo da campanha conta já com mais de 100 mil visualizações no Youtube e 300 mil no Facebook.
Para terminar, refiro sumariamente a célebre ação de Greta Thunberg, uma jovem ativista sueca, de apenas 16 anos, que tem assumido um papel ativo e impactante na defesa da adoção de medidas ecologistas pelos governos de todo o mundo, que mais recentemente culminou nas greves mundiais estudantis às aulas a que temos assistido.
Deixo-vos então com a lição do dia: não precisamos de uma capa para sermos heróis. Basta-nos uma missão e uma vontade desmedida de fazer a diferença. Um bem-haja ao mundo e ao bem que nele existe.
*Artigo publicado na edição de julho do Jornal de Cá.