Equipamento de grande importância para o concelho, o Hotel Quinta das Pratas é, desde 2009, propriedade de Marcelino Gargalo, um antigo técnico de equipamentos para a indústria hoteleira, natural de Alhandra, que um dia sonhou montar uma cadeia de restaurantes e pastelarias, entre Vila Franca e Santarém. O “sonho” alterou-se quando, em 2008, viu um anúncio que lhe chamou a atenção: o restaurante do Hotel Quinta das Pratas, no Cartaxo, estava para alugar. Daí à marcação de uma reunião com o proprietário de então foi um passo, mas o negócio não se chegou a concretizar. “Os valores que me pediram na altura eram incomportáveis. Decidi não alugar. Passados uns meses recebi um telefonema a pedir-me outra reunião e aí a proposta era a compra de toda a unidade hoteleira”, recorda Marcelino Gargalo. Entusiasmado, depois de ter feito uma prospeção de mercado e verificado que o negócio era viável, Marcelino decidiu-se pela compra e garante que entrou, em Junho de 2009, nessa aventura “de peito aberto e convencido de que havia condições para sobreviver”. Os meses seguintes foram um autêntico “balde de água fria”, conta-nos. “Estou convencido de que estava tudo preparado para que o hotel fechasse. O passivo era enorme, não havia papéis de nada, havia dívidas por todo o lado. O antigo proprietário esteve um ano e meio a receber dinheiro sem pagar nada a ninguém e quando me passou o hotel era na convicção que ele ia fechar”. O pior que lhe aconteceu, nessa época, foi a chegada, logo em Agosto de 2009, com apenas três meses de trabalho, de um oficial de diligências a informar que o hotel ia ser vendido em hasta pública. “Fui apanhado de surpresa. Como em muitas outras coisas não havia documentação nenhuma sobre essa penhora”. Decidido a salvar o seu investimento, Marcelino usou os fundos de que dispunha para as obras de melhoramento e renovação do hotel para travar a hasta pública. “Eu tinha reservado algum capital para a criação de mais 15 quartos e de obras de conservação dos 35 existentes, já que as instalações estavam muito degradadas, por falta de cuidados nos últimos anos de funcionamento. Com essa verba, paguei a dívida à segurança social e salvei a venda em hasta pública”, recorda.
A partir daí foi começar a trabalhar “com uma gestão muito rigorosa, tentando não desperdiçar um único euro, porque todo o dinheiro faz falta”, mas de forma a poder dizer hoje, com indisfarçável orgulho “que nestes seis anos já consegui amortizar 450 mil euros ao passivo e tenho as obras dos novos quartos praticamente concluídas, com o mobiliário já comprado, e pago”, como faz questão de frisar. Além dos cuidados na gestão também a captação de novos clientes tem resultado de forma positiva, sobretudo através da internet, registando hoje o hotel uma ocupação de 75 por cento, considerada elevada para uma unidade situada “numa zona de interior, sem indústria nem um movimento turístico que se possa registar”, diz Marcelino Gargalo, que revela estar a apostar em clientes vindos do estrangeiro, sobretudo “pela proximidade de Fátima, que possibilita que já tenhamos reservas para os meses de maio e outubro do ano que vem”.
Neste momento, a única queixa que ouvimos a este empresário hoteleiro é a “falta de diálogo e interesse que os responsáveis da autarquia têm demonstrado por um equipamento que está instalado num terreno da Câmara”. Lembrando que o hotel tem apenas “o direito de superfície”, Marcelino Gargalo entende “que os responsáveis deviam ter mais cuidado em apoiar-nos, pois é do interesse da Câmara que isto não feche. Valoriza o terreno, que é deles, muito mais do que se isto se tornar numa ruína abandonada”. O apoio que gostaria de ter prende-se sobretudo com a possibilidade de utilização do estádio municipal por equipas federadas. “O estádio necessita de melhoramentos e já foi, por duas vezes, chumbado por vistorias da Federação Portuguesa de Futebol, que aqui esteve, tendo em vista a vinda de estágios de diversas seleções”, revela Marcelino Gargalo. “Quando aqui cheguei” conta-nos, “comecei a trabalhar com as seleções. Vieram seleções mais novas, sub-17, sub-23, a seleção nacional feminina. Em 2012, por exemplo, vieram cá 13 vezes. Temos a vantagem de estar perto de Lisboa e de ter o estádio mesmo aqui ao lado. A seleção nacional feminina fez aqui um estágio de cinco dias, quando foi jogar à Austrália. Mas a partir de 2013 as reservas começaram a ser canceladas, porque as inspeções da Federação não têm aprovado o estádio por não estar nas condições que eles exigem. Era preciso que o Município fizesse os melhoramentos necessários porque era bom para todos, não só para o Hotel, mas também para o Município, porque trazia muita gente à cidade, além das verbas de aluguer do estádio. Mas não vejo apoio nenhum da parte dos responsáveis”, lamenta. A várias tentativas falhadas para marcar reuniões com responsáveis camarários, Marcelino junta o fato de nem conseguir que a Câmara o informe dos valores de aluguer do estádio, para poder elaborar propostas a enviar a clubes de futebol. “Há equipas que procuram estágios mais acessíveis, inclusivamente equipas espanholas. Tenho contactos feitos mas não consigo enviar propostas concretas por falta de articulação com a Câmara”.
Confiante no futuro, embora mantenha “que as coisas não estão fáceis”, Marcelino Gargalo aposta em 2016 na abertura dos novos 15 quartos e no sucesso do restaurante, entregue agora a nova gerência e a começar a dar os primeiros frutos e, sobretudo, na continuação do êxito que tem registado no bar do hotel, o Bombar, que está “a correr muito bem, com um ambiente muito bom. Vêm pessoas com os filhos, estão aí até às onze, meia-noite, e depois fica uma clientela divertida. Temos karaoke e, sobretudo, um ambiente familiar que agrada às pessoas”. É por isso que, à despedida, nos garante que o futuro “não sendo cor-de-rosa, não é negro, de certeza”.