A importância do brincar II
Opinião de Sónia Parente, Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Educacional
A crónica anterior salientava que o brincar livremente (ao “faz-de-conta”, os jogos em grupo…) é essencial para o desenvolvimento saudável de uma criança. Com o início das aulas, o brincar livre da criança é muitas vezes posto de lado sendo substituído por atividades (com horários agendados entre as aulas, a realização dos trabalhos de casa e o estudo) que alguns pais consideram equivalente ao brincar, mas não é. O verdadeiro brincar é pouco valorizado pelos adultos, dando-lhe pouca atenção, e as tecnologias vão ocupando cada vez mais lugar na vida das crianças interferindo no tempo dado às “verdadeiras brincadeiras”.
Muitos adultos acreditam que brincar é improdutivo e inútil, uma atividade apenas de lazer, sem importância no desenvolvimento da criança, e assim as crianças brincam cada vez menos.
Apesar de nem as escolas os levarem em consideração – com poucos recreios e aulas de noventa minutos – os estudos pedagógicos sobre os processos de desenvolvimento infantil apontam que o brincar é uma importante fonte de desenvolvimento e de aprendizagem. O brincar é um ato de aprendizagem prazerosa não sendo somente lazer, na medida em que é considerado um fator de desenvolvimento: físico e motor – desenvolve a motricidade e a força e ajuda no gasto da energia típica destas idades, social – permite a observação, interação e a experimentação de papéis, aprender a respeitar os outros e a si mesmo, afetivo – brincando a criança constrói sua identidade, conquista a sua autonomia, exterioriza o seu interior, e cognitivo – proporciona a criatividade, o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.
O atual mundo competitivo e os exames bastante exigentes refletem-se na atitude dos pais que se centram em que os filhos se apliquem fundamentalmente no estudo em detrimento do tempo livre para brincar. Está provado por vários estudos que mais tempo diário de brincadeira livre proporciona maiores períodos de concentração e assim um melhor desempenho escolar.
A vida da criança gira em torno do brincar, a infância é isso mesmo, se lhe é praticamente retirado surgem mais crianças com dificuldades de atenção diagnosticadas, por vezes de forma errada, como hiperativos, quando muitas vezes têm é muita energia contida que não é libertada através do brincar.
O brincar livre não é tempo perdido mas sim imprescindível para a criança ser saudável e, bem gerido, há tempo para tudo.