A importância do brincar

Opinião de Sónia Parente, Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Educacional

Por várias razões a sociedade atual tem vindo a restringir o tempo de brincadeira das crianças, mas uma mudança nessa atitude é importante pois vários estudos realizados comprovam a importância do brincar como fator de desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e físico da criança. Estudos acerca do desenvolvimento infantil apontam que a brincadeira de “faz-de-conta” é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e aprendizagem.

Atualmente, as crianças passam cada vez mais tempo na escola e ainda têm as atividades extra-curriculares (a ginástica, a música, etc.) e também a realização muitas vezes diária dos trabalhos de casa. Portanto, ficam praticamente sem tempo para brincar.

Ao longo da infância, a brincadeira de “faz-de-conta” estimula a imaginação, a fantasia e a realidade misturam-se e treinam-se aptidões sociais. Mobilizam-se esquemas mentais, estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço, e integra várias dimensões da personalidade, afetiva, social, motora e cognitiva.

Na época da tecnologia, atualmente as crianças e jovens passam o seu pouco tempo de lazer essencialmente na frente da televisão ou com jogos eletrónicos. Nas “brincadeiras tecnológicas”, compostas essencialmente por imagens que não têm de imaginar, a sua capacidade criadora e imaginativa é pouco estimulada, o que certamente influenciará no seu desempenho escolar. Na visão da psicopedagogia, o brincar de “faz-de-conta” não é somente lazer mas também um acto de aprendizagem que se reflete no adquirir de capacidades e que contribui para o desenvolvimento de potencialidades. Por exemplo, um bom aluno na disciplina de português deve ter capacidade criativa, quer para escrever textos, quer para interpretar.

Nas “brincadeiras tecnológicas” a área afetiva é também pouco estimulada, quer no relacionamento com os outros, já que as crianças estão mais sozinhas, sem um contato real com os outros, quer no extravasar das suas tristezas e alegrias, angústias, entusiasmos, passividades e agressividades pois através do brincar a criança exterioriza o seu interior. As “verdadeiras” brincadeiras proporcionam experiências, que possibilitam a conquista e a formação da sua identidade. O brincar da atualidade pode estar a contribuir para o grande número de crianças imaturas e com dificuldades nos relacionamentos.

É necessário sensibilizar sobre a importância do brincar para aprendizagem e para o desenvolvimento da criança. O tempo e liberdade para o verdadeiro brincar deve ser valorizado.

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