A política internacional vive uma crise brutal, com natural destaque para os conflitos armados na Ucrânia e Palestina. Esta crise gerou impactos económicos (e sociais) muito negativos que vieram mostrar a necessidade de uma Europa cada vez mais forte e autónoma.
Não vale a pena negar. Sem uma estratégia económica altamente bem-sucedida, o modelo social europeu não terá como ser sustentável, nem muito menos como se afirmar no mundo. O bem-estar social não existe sem prosperidade e a ausência de ambos destruiu e destruirá qualquer sistema por dentro.
Ao longo das últimas décadas, o crescimento e valorização da indústria dos serviços (tanto na Europa como nos EUA), levou à deslocalização da capacidade produtiva para outros países, nomeadamente a China e o Vietname, nos quais a mão-de-obra é praticamente gratuita. Isto confere a estes regimes totalitários o poder de boicotar a nossa economia. Foi o que fizeram os russos com o gás e petróleo e o que conduziu (em grande parte) ao aumento descontrolado do preço dos juros e dos produtos a que temos assistido.
No fundo, a Europa e os EUA esqueceram-se que qualquer regime totalitário pode até não ser inimigo, mas será sempre uma ameaça às democracias. Pelo que a nossa estratégia não poderá passar nunca por lhes dar poder para nos destruir, sob pena de sermos por eles consumidos ou afogados internamente em ditaduras.
É por isso urgente relançar o projeto industrial europeu, a par com o desenvolvimento de energia verde para o alimentar (na qual Portugal é líder). Um projeto industrial renovado, alicerçado no conhecimento, capacidade de inovação e tecnologia de ponta. Até porque a qualidade da escola pública europeia não promove unicamente igualdade de oportunidades, também faz da população ativa europeia a mais qualificada do mundo. Precisamos dessa mão-de-obra para liderar esta transformação industrial, energética e digital. E precisamos de mão-de-obra imigrante para ocupar as profissões de mais baixos salários e qualificações que estão a ser criadas.
Finalmente, a guerra da Ucrânia veio provar que os EUA não podem ser os únicos responsáveis pela defesa da liberdade e da democracia no mundo. A Europa tem que ter um papel mais ativo e até de liderança neste processo, apesar dos custos e responsabilidades que acarreta. Até porque no caso da guerra da Palestina também ficou mais uma vez provado que os americanos, ao contrário de nós europeus, não escolhem ficar do lado da razão, mas sim do interesse económico.