Vila Chã de Ourique está a preparar-se para receber o Hotel Vínico Casa 1927, um quatro estrelas superior que pretende assumir-se como um ponto de fusão entre a cultura do vinho e o estilo de vida ribatejano. Fomos conhecer a casa e a responsável pelo projeto, Maria Vicente, uma apaixonada pela enologia e pelo enoturismo
O hotel terá 23 quartos (14 suites e nove quartos duplos) e oferecerá aos clientes a possibilidade de desfrutar da cultura, gastronomia, das adegas e extensas vinhas da região. Um projeto com um investimento previsto a rondar os três milhões de euros.
O empreendimento contará com SPA, com piscina interior, e jacuzzi. Este SPA oferecerá serviços como vinoterapia, banho turco, sauna, tratamentos e massagens, associando a natureza aos cheiros e óleos utilizados.
O hotel contará, ainda, com piscina exterior, ginásio e uma sala de eventos, que será utilizada para formações e workshops de vinhos e culinária. Neste espaço será criada uma estufa vertical para cultivo experimental de legumes, ervas aromáticas, flores e plantas.
No exterior, a Casa 1927 vai manter as árvores presentes no espaço (laranjeiras e limoeiros), bem como plantar videiras e roseiras (5 pequenos talhões), onde se irá fazer uma micro e experimental zona de plantação de vinhas biológicas com diferentes tipos de castas, que são utilizadas nos vinhos da marca Casa 1927, e que permitirão maior interatividade nos workshops, com explicação in loco. Estes espaços são, também, barreiras visuais, que irão criar um espaço privado de ligação com os quartos.
Uma referência na região
Os espaços verdes fazem o enquadramento e a transição entre o edificado e o espaço de circulação pedonal nos pátios centrais.
Este empreendimento pretende atrair muito público estrangeiro, nomeadamente do norte da Europa ou até das Américas. Para isso, a Casa 1927 conta com o clima da região, com muitas horas de sol, o que possibilita desenvolver atividades complementares, tais como passeios a diversas zonas demarcadas, no rio, ou ao património, beneficiando das excelentes acessibilidades que a região tem a todo o País.
No entanto, no interior do empreendimento, constituído, basicamente, por adegas e armazéns, serão diversas (e necessárias) as alterações, já que é aqui que se vai desenvolver a parte residencial deste hotel, o restaurante e o SPA.Todo o projeto se desenvolve à volta da casa, ao estilo Raúl Lino, construída em 1927. O trabalho de recuperação das fachadas já começou, com o objetivo de manter a casa-mãe o mais semelhante possível à original, bem como o de recuperação da azulejaria original.
Um dos depósitos subterrâneos, por exemplo, deverá ser aproveitado para dar origem a uma piscina, uma das caves poderá receber workshops ou eventos de apresentação ou lançamento de vinhos, entre um sem número de inovações que estão previstas.
No restaurante, vai ser possível degustar interpretações de cozinha regional e típica. O objetivo é convidar vários chefs para fazerem jantares vínicos ou provas harmonizadas.
Apesar de só estar previsto entrar em funcionamento em 2019, os responsáveis estimam que esta unidade hoteleira crie 14 postos de trabalho, que serão, preferencialmente, preenchidos por pessoas da região.A Casa 1927 quer ser uma das referências a nível regional pela oferta turística diferenciada, no que diz respeito ao Enoturismo, procurando, ao mesmo tempo, a dinamização económica dos vinhos do Ribatejo, e contribuir para o desenvolvimento económico da região e para o aumento da empregabilidade.
Previsto estar a funcionar em 2019, estima-se que esta unidade hoteleira crie 14 postos de trabalho
Assim, este será um hotel glamoroso, rodeado de atmosfera trendy que proporcionará as experiências criativas, culturais, de repouso e harmonia com o mundo exterior, seja para uma estadia em família ou um retiro de negócios.
O rosto da Casa 1927
Fomos conhecer o espaço, onde vai nascer o hotel, e Maria Vicente, gerente e enóloga da empresa Casa 1927, que acredita que um turismo de qualidade “é um veículo privilegiado para dar a conhecer o que de melhor se produz em Portugal e proporcionar aos clientes a possibilidade de conhecerem melhor os vinhos portugueses, em particular os vinhos do Tejo, promovendo cursos de provas, orientando-os na descoberta dos melhores produtores das diferentes regiões de Portugal, valorizando as tradições e diferentes estilos”.
Licenciada em Engenharia Alimentar e pós graduada em Enologia, Maria Vicente é membro da Câmara de Provadores da Região Tejo, da Associação Portuguesa de Enologia, da Confraria Enófila Nossa Sra. do Tejo e júri em diversos concursos nacionais e internacionais de vinhos. Tem uma vasta experiência em missões de promoção de vinhos em vários países da Europa e do mundo. É ainda oradora em seminários, provas enogastronómicas, workshops de vinhos.
Maria Vicente é uma alentejana que veio parar ao Ribatejo. Estudou na Escola Superior Agrária, em Santarém, e lá conheceu o marido. Entretanto, depois de vários estágios fora do País, “trabalhei pela primeira vez na ViniPortugal, a fazer a divulgação, durante a Expo’98, já lá vão uns aninhos largos”, quando se apaixonou pelos vinhos. “Já tinha esta paixão antes, porque sempre fomos ligados ao campo. Eu sou de Almodôvar, é uma zona rural, no interior do Alentejo, o meu avô sempre teve propriedades e gado, e nós sempre tivemos muito contacto com a natureza e eu sempre quis trabalhar com algo ligado à renovação dos ciclos, sempre gostei de ver toda a renovação, e na vinha isso é extraordinário, todos os anos temos uma nova oportunidade para fazer um novo vinho, cada vez melhor, não é? E isso sempre me seduziu, de modo que foi uma escolha natural, e entrando no mundo dos vinhos já não dá para sair, ficamos completamente rendidos”, constata Maria Vicente.
O concelho vai aderir e havendo oferta, se nós tivermos o hotel cheio de turistas, estes vão para os restaurantes, querem comprar coisas da terra, querem ver o Museu… Tem de haver resposta.
Estagiou no IVV (Instituto da Vinha e do Vinho), em Santarém, na Divisão de Fiscalização, mas “rapidamente percebi que a fiscalização não era para mim, e entrei para a Quinta do Gradil”, aquele que seria o seu primeiro trabalho enquanto enóloga. “Depois, fui desafiada a montar um projeto novo, uma central de engarrafamento, e fui, com mais um colega, iniciar esse projeto. Foi muito interessante, mas também não era aquilo que me atraía mais, porque era um ambiente mais de produção e não tão ligado à parte da vinha, era mais ligado à qualidade”, conta. Entretanto, surgiu o convite da Casal do Conde para integrar a equipa de enologia, da qual ficou responsável. “Foi um desafio engraçado, tivemos muitos prémios, felizmente, tivemos prémios em todos os concursos, praticamente.”
Enoturismo
Outra das suas paixões é o enoturismo o que a levou a abraçar o projeto da Casa 1927, depois de ter “muitas ligações com associações de enoturismo que vêm frequentemente a Portugal e que gostam de vir conhecer os vinhos, conhecer as vinhas, e inclusivamente, na Casal do Conde, também fizemos vários eventos de abertura de vindimas, que era uma coisa que trazia sempre imensas pessoas, muitos estrangeiros. Nós percebemos que as pessoas, que muitas vezes, nunca tiveram contacto direto e que não sabem, sequer, que o vinho vem da vinha, chegam e ficam apaixonadas. Realmente, a região é ímpar, ainda não tem, mas eu acredito que muito brevemente vai ter, uma oferta turística estruturada, de modo a conseguir captar esses turistas e mantê-los cá, porque existem condições ímpares, aqui. Temos o rio, que é fabuloso… chegámos a fazer alguns passeios de barco com muito boa recetividade”, recorda a enóloga.
A cultura do cavalo na região, bem como a existência de algumas coudelarias, é também uma mais-valia para a aposta no hotel vínico em Vila Chã de Ourique. De acordo com Maria Vicente, “já temos uma parceria com a coudelaria Luís Bastos, e poderemos ter com mais, mesmo em Vila Chã também reunimos com o Gonçalo Linhas, que tem aqui cerca de 30 cavalos apenso, belgas. E ele diz que o Hotel, realmente, é uma coisa fantástica, porque as pessoas quando vêm querem ficar o mais próximo possível dos animais, e nós aqui temos essa facilidade, que foi uma das principais razões pelas quais achámos que aqui o projeto faria sentido”.
Localização priveligiada
Na opinião da enóloga, Vila Chã de Ourique “é muito central, o nosso objetivo não é só mostrar a região do Ribatejo, apesar de ser esse o primordial, mas poder mostrar todo o País no espaço de uma semana, uma semana e meia. Porque se nós tivermos turistas alojados aqui, podem fazer programas de um dia de vindimas, vamos imaginar, um programa de um dia de cavalos, passeio no rio, podem fazer programa histórico, património, temos Santarém Capital do Gótico, temos monumentos interessantes também em Vila Chã de Ourique, o monumento alusivo à Batalha de Ourique, no Cartaxo também temos o Museu do Vinho, que também é bastante interessante para poder divulgar e mostrar”.
E a localização privilegiada da vila permite uma programação mais alargada. “Vamos imaginar que numa semana já mostrámos o que queríamos mostrar aqui: então, vamos uma noite a Lisboa, a uma casa de fados, vamos mostrar o património que temos. Também já temos uma parceria feita nesse sentido. Vamos um dia para o Alentejo, vamos fazer um percurso, vamos mostrar os vinhos do Alentejo, vamos um dia para Óbidos, que é, também, um dos sítios mais visitados. E o facto de nós termos estes acessos, esta centralidade… hoje em dia, temos a A 13, que nos leva rapidamente ao Alentejo. Ou até mesmo ao Douro, que para nós nos faz imensa confusão, como é que as pessoas, no mesmo dia, vão de Vila Chã de Ourique para o Douro. Mas nós estamos num País muito pequenino e os nossos clientes, muitos deles, virão de países continentais, portanto, estão habituados a viajar. Três horas é uma coisa completamente pequena, para eles”, realça Maria Vicente.
A casa, ao estilo Raúl Lino, construída em 1927, o vinho, os projetos da piscina exterior, SPA, quartos e cave. À direita, Maria Vicente, enóloga e administradora da Casa 1927
Mas não se pense que o hotel será só para forasteiros. “O nosso objetivo é manter o hotel aberto à região, à comunidade, porque se nós vamos fazer um empreendimento que vai beneficiar a região, as próprias pessoas da região também podem vir usufruir, e é uma coisa que eu acho que é positiva, que vai trazer dinâmica, não queremos que seja aqui um empreendimento fechado, a que as pessoas não possam ter acesso”, evidencia a gerente, adiantando que “faremos alguns eventos, além dos workshops, que vão ser periódicos e frequentes, onde faremos desde provas de vinhos por casta ou por anos, ou harmonizações, ou então explicações do próprio processo, de ciclo vegetativo da videira, etc”. Para além disso, Maria Vicente refere ainda que também está prevista a plantação de videiras dentro do próprio empreendimento, “para podermos explicar a um formando, a uma pessoa que vai aprender, como é que funciona e podermos mostrar, diretamente, aqui”.
Sendo este um investimento desta dimensão, na opinião de Maria Vicente é necessário “um esforço, por parte do Cartaxo, para ter as coisas abertas, desde o Museu do Vinho até ao próprio comércio. Tudo o que é visitável estar, efetivamente, visitável”. E Vila Chã de Ourique está preparada? – “Eu acho que vai ter tempo para se preparar e acho que se vai entusiasmar com o próprio projeto, que pode ser fator de entusiasmo para conseguir levar as pessoas a ter, de facto, aquele gosto. Eu já notei que as pessoas, de facto, têm muito gosto pela terra e isso é muito importante. As pessoas são muito aprimoradas e gostam de fazer as coisas bem, gostam de ter as coisas bonitas”, responde a gerente. “Outra coisa que nós notámos aqui, que achámos fantástico, é que as pessoas passam por aqui, mesmo pessoas já mais velhas, e vêm-nos dar os parabéns por estarmos a recuperar a casa, porque era uma casa que achavam que deveria ser recuperada”, conta Maria Vicente, que acredita que as “pessoas vão aderir, o concelho vai aderir e havendo oferta, se nós tivermos o hotel cheio de turistas, estes vão para os restaurantes, querem comprar coisas da terra, querem ver o Museu… Tem de haver resposta”.
Vinhos da Casa 1927
“As nossas vinhas não são aqui. Nós temos várias parcerias, e vamos ter, também, vinhos do Tejo”, revela a enóloga, contando que “o primeiro lançamento foi o vinho do Douro, porque achámos que é a região mais icónica do País e é Património Mundial. Inevitavelmente, esse é um fator interessante para divulgar e para comunicar. Mas vamos ter vinhos do Tejo. Eu prevejo ter esses vinhos lançados ainda antes do verão. Vamos ter, pelo menos, um branco, um tinto e um rosé. Vamos ter, também, vinhos da Bairrada, vinhos do Alentejo. Temos várias situações. Temos alguns parceiros, eu também tenho uma vinha no Alentejo, em Almodôvar, de onde vamos fazer o nosso vinho alentejano, que será biológico, e depois temos algumas parcerias, algumas com participação, outras não, no Douro, na Bairrada e aqui no Tejo”.
Para além dos vinhos, até final do ano, a Casa 1927 tem previsto o lançamento de um azeite extra virgem. E, segundo a gerente, “com um parceiro daqui do Ribatejo. Já estamos a trabalhar em toda a parte do design. O objetivo é ter uma linha diferenciada.”