Todo o Velho Continente assistiu, com algum receio, ao anúncio dos resultados das mais recentes eleições italianas. Pela primeira vez desde a Segunda Grande Guerra, o governo de Itália será liderado por uma coligação com a extrema-direita à cabeça.
Sendo a nação italiana uma das maiores potências e economias europeias, a situação tem preocupado grande parte dos vinte e sete, especialmente numa altura em que se adivinham meses morosos e enredados em diversas frentes para a união Europeia. Quem escolheu foram, sem dúvida, os italianos e, ainda que a abstenção tenha atingido uns desgostosos 37%, a mensagem do povo foi clara.
Meloni, a líder partidária, sucessora de Mussolini, assegurou que o principal objetivo passa por reconstruir a relação entre o Estado e os cidadãos e reconquistar a confiança nas instituições do Governo. Nesta coligação de direita está ainda Sílvio Berlusconi, já conhecido dos italianos, que nunca teve dificuldades em chegar às manchetes. Matteo Salvini, conhecido pela sua política dura contra a imigração, também integra este quadro.
As mensagens para Roma chegaram de todos os cantos da Europa, desde Santiago Abascal, líder do Vox, a Mateusz Morawiecki, primeiro ministro polaco, André Ventura, retórico português, Marine Le Pen e o cada vez mais problemático Viktor Orbán. Todas estas felicitações a Meloni falam em ventos de mudança e de um novo caminha a ser traçado para a União Europeia, enviando uma mensagem clara para Bruxelas. Entretanto, do outro lado da Cortina de Ferro, o Kremlin já disse estar pronto para estabelecer laços com Roma que sejam capazes de ir além da “narrativa de ódio” construída contra Moscovo.
Tendo a Itália assistido a um dos regimes mais negros e opressores da história da Europa, esperava-se que a memória italiana fosse mais forte e, acima de tudo, mais sábia e ponderada. Vivemos tempos insólitos e abstrusos.
Como Churchill afirmou, a democracia é a pior forma de governação, à exceção de todas as outras. Numa época em que o berço da democracia atravessa um claro défice político, é necessário olhar criticamente para o processo democrático e confiar no mesmo, mas, para isso, é imperativo que os europeus estejam bem informados. Setembro foi um mês de reinícios. Esperemos que todos contribuam devidamente para as novas e complicadas etapas que se interpõem no caminho do projeto europeu.
Olhar para tempos passados sempre foi algo custoso, mas não há lição mais valiosa para a Europa que o século XX.