Jair Bolsonaro e os touros no Cartaxo

Opinião de Ricardo Magalhães

Não estive presente na manifestação anti-taurina que teve lugar às portas da Praça de Touros do Cartaxo, ao mesmo tempo que decorria a corrida de celebração dos 150 anos daquele anfiteatro, o 2º mais antigo a nível nacional. Deste modo, acompanhei o protesto unicamente através das notícias e imagens que fui encontrando nas redes sociais. E devo confessar que tudo aquilo me fez lembrar que a história tem momentos marcantes, os quais as suas personagens, na maioria das vezes, não se apercebem que vivenciam. E naquele momento senti isso mesmo: que estava a vivenciar um momento histórico. Que aquelas pessoas tinham tudo em comum com aquelas mulheres que um dia saíram à rua pelo direito ao voto; com aqueles pretos e brancos que sonharam dar as mãos como irmãos; com aqueles homens e mulheres que lutaram para que no casamento o amor fosse mais importante que a orientação sexual. No fundo, aquelas pessoas estavam no lado certo da história. Pelo menos, foi isso que eu senti, mesmo que aqueles que se encontravam dentro da Praça de Touros possam veementemente discordar.

Da mesma forma, não me passaram despercebidos (nem a ninguém, na verdade) os incêndios na Amazónia. Milhares e milhares de hectares de património histórico, cultural, biológico e ambiental foram dizimados e reduzidos a cinzas. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, apelidou de “colonialismo” os esforços do presidente francês, Emmanuel Macron, em apelar à solidariedade dos membros do G7 para a devastação sem fim à vista de que continuava a ser alvo a Amazónia. A este ataque de Bolsonaro juntam-se todo um conjunto de afirmações suas que procuram no fundo defender a sua posição como presidente com base em propaganda de índole nacionalista, típica dos regimes fascistas que Bolsonaro faz questão de renegar. Adivinhem? Está a resultar, são muitos os brasileiros a unirem-se à volta da figura do seu presidente na defesa ao “ataque” à soberania de que está, nas palavras deste, a ser alvo o seu país. “A Amazónia é do Brasil”, dizem eles. É mentira! A Amazónia é do mundo! E é ridículo e desprezível o apoio que Donald Trump gosta de vir sempre dar nestes momentos: a Bolsonaro, por estas afirmações, e a Boris Johnson, quando consegue arranjar maneira de suspender o parlamento britânico para conseguir, à força, levar a sua avante e obrigar a uma saída sem acordo do Reino Unido da União Europeia. Estranhos movimentos de figuras que, repito, renegam a extrema-direita, mas fazem tudo para se opôr à democracia interna e à diplomacia e cooperação externas.

*Artigo publicado na edição de setembro do Jornal de Cá.

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