De jornalista a gestor e formador, o percurso e as ideias de um político sem ambições pessoais que se move no interesse da comunidade
Nunca programou nem ambicionou nada do que foi obtendo ao longo da vida, deixando-se guiar pelo instinto e pelo que a cada momento achou que era certo fazer. Presidente da Assembleia da União de Freguesias de Cartaxo e Vale da Pinta, Jorge Nogueira é ainda membro da Assembleia Municipal do Cartaxo, da Assembleia da Comunidade Intermunicipal Lezíria Tejo e Vice Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo. Liderou a concelhia do PSD mas por razões pessoais renunciou ao mandato. Casado com Paula Mesquita Lopes, tem dois filhos, com 16 e 21 anos. Dos quase 15 anos de jornalismo, de que fala com paixão e que abandonou para dar resposta à gestão dos vinhos Joanicas, recorda terem-lhe dado a “oportunidade de conhecer pessoas extraordinárias”. Agora, que está a desenvolver um projeto de formação na área da comunicação, descobriu que lhe dá um enorme prazer comunicar conhecimento.
Como está a correr a experiência da União de freguesias?
Está a correr bem. Como sabem esta união de freguesias nunca provocou grandes emoções, nem foram levantados bairrismos exacerbados para dificultar o processo de agregação. Ando na rua, vou às duas localidades, e nunca senti qualquer animosidade. A assembleia de freguesia também deu o seu contributo para a harmonia ao ter decidido que pelo menos duas das suas sessões se realizariam fora da sede da união de freguesias.
Vamos falar de si. Porque se afastou da liderança concelhia do PSD?
Entendi que para seguir a minha vida profissional teria que abdicar de algumas coisas. A liderança do PSD do Cartaxo foi uma delas. Esta foi, sem qualquer dúvida, uma das decisões que mais me custou. Eu não gosto nada de abandonar coisas a meio, mas teve que ser.
Arrependeu-se alguma vez dessa decisão?
Não, nunca. Gosto de dizer que foi uma decisão dolorosa, mas muito pacificadora para a minha consciência. Tento ser racional. Pesei os prós e contras, falei com a minha mulher, expliquei aos meus companheiros da comissão política tudo o que pensava sobre o meu presente e o meu futuro.
O que está a faltar fazer na “sua” freguesia?
São tantas coisas que nem sei por onde começar. A sensação que temos é a de que precisamos de tudo. Mas limpeza e alcatrão são as mais evidentes e notórias. Vão ser precisos muitos anos e alguns milhões de euros para recuperar a qualidade de vida no Cartaxo. A política levada a cabo pelo partido socialista gastou recursos financeiros equivalentes a cinco anos de receitas da Câmara.
Acha que a cidade está a ser bem gerida?
Sinceramente, não é possível dizer tal coisa… A atual gestão estará sempre ligada a anteriores gestões. Eu não digo que o atual executivo não se esforce, aliás todos os que vão estando com o vereador Fernando Amorim veem as marcas de cansaço que já apresenta no rosto. Mas, às vezes, penso que o executivo socialista do Cartaxo se assemelha aos técnicos da casa das máquinas do Titanic. Fazem um esforço sobre-humano, mas o rombo no casco teima em manter constante o nível da “dívida”.
O que fazia diferente?
É preciso fazer de forma a não gerar défices futuros. Quando uma câmara tem de receitas médias anuais, consolidadas ao longo dos últimos três anos, de 11,5 milhões de euros e poderá ter de obrigações com o passivo qualquer coisa como cinco milhões de euros, a juntar a uma despesa com vencimentos do pessoal na casa dos seis milhões, fica tudo dito sobre as soluções que poderão ser aplicadas nesta autarquia. Como não é previsível um aumento brutal das receitas da autarquia, então só temos espaço para reduzir drasticamente as despesas.
Política à parte, como gosta de se definir?
Para me definir não preciso de pôr a política de parte. É com política e tudo. Eu gosto de achar que a atividade profissional que abracei em 1989, o jornalismo, me moldou para sempre. O jornalismo acentuou a minha necessidade de conhecimento, de novidade, de rigor, de busca da verdade. Possibilitou-me um contacto estreito com muita gente. Abriu em mim muitas janelas e inúmeras portas, ao ponto de eu hoje não conseguir imaginar como é que poderia ter sido a minha vida se não tivesse começado por ser jornalista na redação do jornal “O Ribatejo”. Gosto de me definir como jornalista, é assim que me vejo.
A política não interfere na vida familiar?
Reconheço que a vida familiar de um político profissional tem que ter um cimento especial. Quem faz política ao nível que eu faço, nas autarquias locais, não precisa de se queixar muito. E quando a vida em família não se concilia com a política, o problema não é da política. Mas nesse campo eu também sempre disse que só me sentia bem a conjugar tudo e de uma forma harmoniosa, a família, o trabalho e a política.
Um desejo para o futuro do concelho…
Oxalá consigamos recuperar a qualidade de vida que o Cartaxo já teve. Oxalá consigamos emendar os erros que foram cometidos. Gostava muito e seria um orgulho poder dizer, no futuro próximo, – depois de terem sido sempre os socialistas a conduzirem os destinos do concelho,- que houve um grupo de homens e mulheres social democratas, gente boa, altruísta e abnegada que conseguiu resgatar a esperança há tanto tempo perdida. Gostava muito de ter saúde para usufruir de um concelho desenvolvido, harmonioso e amigo do cidadão. Oxalá consigamos. Era bom para todos.