O jovem realizador Paulo Antunes, de Pontével, tem estado em destaque na comunicação social nacional, nos últimos dias, pela estreia do seu documentário no Festival Internacional de Cinema – IndieLisboa. “Um punk chamado Ribas” é uma homenagem ao vocalista dos Censurados e Tara Perdida, falecido em 2014, mas também ao movimento punk nacional.
O documentário tem dado que falar na imprensa, rádio e redes sociais, principalmente depois de anunciada a sua estreia no IndieLisboa. A este respeito, Paulo Antunes, 31 anos, atualmente a viver em Lisboa, conta ao Jornal de Cá que não teve de fazer muito pela promoção do documentário, notando que o documentário se “autopromoveu” pela pessoa que era [João Ribas], a partir do momento em que se soube que ia ser apresentado no IndieLisboa, “foi-se multiplicando”.
Juntamente com outro pontevelense – André Oliveira, Paulo Antunes iniciou as filmagens deste documentário em 2015, um ano após a morte do protagonista que acabou por surpreender o realizador que tinha por objetivo fazer esta homenagem a João Ribas em vida. “Quando eu pensei no documentário seria com ele vivo”. Apesar de saber que João Ribas já se encontrava doente, Paulo Antunes nunca pensou num desfecho tão rápido. “Pensamos que temos sempre tempo para fazer as coisas, não é”, lamentando a morte prematura do carismático vocalista. “Eu acho que as homenagens se devem fazer quando as pessoas estão vivas, mas depois também não quis deixar de fazer, porque acho que era uma homenagem merecida”. Para além disso, o realizador quis “mostrar a importância que ele teve não só no movimento punk, mas na música. E para que estas gerações mais novas possam também ficar a conhecer melhor. As músicas dos Censurados ainda continuam muito atuais e sempre gostei de punk por causa disso”.
Paulo Antunes deixa um documento que marca a história do punk em Portugal e uma figura que influenciou “várias gerações de jovens, músicos e um sem-número de outras bandas. Mas sempre rejeitou qualquer ideia de ser um ícone da música, mantendo coerência com a sua postura genuína. Viveu sempre para a música e o seu nome irá para sempre estar ligado à história da música portuguesa”.
Na impossibilidade de fazer este documentário com o protagonista, Paulo Antunes muniu-se de imagens de João Ribas cedidas por amigos e familiares, assim como de testemunhos de quem com ele partilhou experiências – músicos, amigos, familiares e radialistas – fazendo um retrato do músico e prestando-lhe homenagem. Assim, o documentário conta a história de João Ribas, “figura de proa de algumas das bandas de punk rock mais influentes e históricas de Portugal, como os Ku de Judas, os Censurados e os Tara Perdida, tendo também participado em vários projetos paralelos, como os Kamones e os Osso Ruído”.
“Começámos as filmagens no dia 9 de maio de 2015, numa festa de homenagem ao João Ribas, um ano após a sua morte, organizada por familiares e amigos, em Alvalade (Lisboa). Curiosamente, conta Paulo Antunes, que não esconde a sua admiração pelo retratado, nesta primeira recolha de imagens e de testemunhos o equipamento falha: Paulo e André ficam sem microfone e acabam por fazer o trabalho com o micro de João Ribas, gentilmente emprestado pelo seu sobrinho Diogo, que salva a situação. “Começámos as entrevistas com o microfone do Ribas”, afirma o realizador com orgulho. Afinal, é fã do vocalista e este era um trabalho que queria muito fazer.
Agora, “é para continuar!”
Paulo Antunes acreditava que este documentário ia ser bem recebido e, na verdade, “as críticas foram positivas”. Agora, “é para continuar! A minha ideia foi sempre poder fazer documentários ligados à música. Tenho ai algumas ideias”, avança o realizador, licenciado em Estudos Artísticos/ Estudos Fílmicos, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve e que fez o mestrado em Estética e Estudos Artísticos com especialização em Cinema e Fotografia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, numa altura em que já estava a fazer o documentário, trabalho que havia de ser incluído na sua tese final de mestrado.
Por enquanto ainda está na fase de apresentação do filme pelas salas do País e nas quais gosta de participar, conversando com o público, que, geralmente nestes casos, também tem curiosidade e gosta de prolongar por mais um pouco o filme visionado na tela.
Paulo Antunes, que já havia realizado uma curta-metragem, em 2018, contou neste primeiro “grande” trabalho com André Oliveira, que fez algumas filmagens, o som, a correção de cor e foi diretor de fotografia, e teve ainda a ajuda de mais pessoas na pós produção: Diana Reis, do Cartaxo, fez o genérico, o Pedro Mourinha e o Miguel Canaverde, de Santarém, ajudaram na parte de edição de imagem e Diogo Alcobio na pós-produção de áudio. A voz off é de Nuno Calado.
“Tenho tido convites para apresentar o filme em sala e noutros festivais cá em Portugal e pelo feedback que tenho é possível que vá lá fora. Da mesma maneira que nós gostamos de ver documentários dos outros os outros também podem gostar de ver os nossos. Apesar de ser sobre uma personagem particular da cena portuguesa acho que pode ser visto lá fora, há sempre festivais em que encaixa esta temática e vamos ver”, espera o realizador.
A projeção que o documentário alcançou “acaba por abrir algumas portas e mais que não seja poderá ser mais fácil para conseguir apoios que deem estabilidade financeira à equipa que está a trabalhar e em termos de logística”, destaca Paulo Antunes, lembrando que não houve apoios financeiros para este trabalho e houve algumas despesas maiores a cobrir, por exemplo, nas filmagens em Berlim, onde estiveram durante uma temporada, também para trazer o testemunho de uma ex-namorada de João Ribas.
Ficamos a aguardar que o documentário passe pelo Centro Cultural do Cartaxo. Sabemos que já houve um contacto por parte do realizador, agora é esperar para ver.