Líderes em extinção

Opinião de João Fróis

Nunca como agora se tem falado em extinção, não só das espécies que desaparecem a ritmo assustador, mas do próprio Homem, às mãos do caos climático anunciado.

Mas o que parece já ter sido extinto foi a figura de líder. Os grandes inspiradores e decisores nas horas difíceis desapareceram e não se vislumbra que possam ressurgir em tempos de convulsão e medo.

O séc. XX teve homens maiores que a sua própria condição e que marcaram o curso da história e o destino de nações e do mundo. A abnegação e paz de Mandela, o sonho universalista de Luther King, a firmeza e visão de Churchill, a resistência de De Gaulle, a crença e inspiração de Gorbatchov, são exemplos entre outros, de líderes naturais que pela força da razão, em contraste com um mundo vergado á razão da força, inspiraram e moldaram os destinos de um mundo em colapso iminente e a sua reconstrução.

Neste conturbado séc. XXI, em que os ódios se agigantam, vão faltando pesos pesados que marquem a diferença e tragam a confiança que o mundo carece. Vemos o autoritarismo, suavizado pela capa de uma democracia apenas aparente, amordaçar a liberdade e o futuro de nações, atirando milhões para a indigência e criando vagas imparáveis de deslocados da guerra, da fome e da penúria. Um mundo cada vez mais desigual precisa de líderes que o saibam guiar e de gerar consensos, acordos multilaterais e caminhos de esperança.

É assim à escala global e é também assim entre portas.

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Por cá vivemos uma crise económica prolongada e agora igualmente política, com a não aprovação do orçamento, indo para eleições legislativas em finais de Janeiro. Assistimos a preocupações partidárias, a diversos cenários de arranjos pós-eleitorais como que a anunciar que da instabilidade não nos iremos livrar. Também aqui faltam líderes e o carisma inspirador que só os grandes estadistas possuem. Com crenças fortes, ideias bem assentes e um espírito de serviço ao país muito para além de quaisquer interesses particulares ou classistas.

Em boa verdade, nestes 47 anos de democracia, faltaram não só a liderança mas a coragem de levar a cabo as reformas de fundo que o país carece para que o fosso que nos separa dos congéneres europeus possa, finalmente, ser encurtado.

Mais que um partido, uma ideologia e um candidato, precisamos de um líder corajoso, determinado, conciliador mas arrojado, justo e reformador. Utopia, dirão muitos, mas se desistirmos de acreditar será o princípio do fim da democracia e as pequenas tribos irão soçobrar face ao apetite voraz da economia, destruindo o modelo social da velha Europa e instalando o caos civilizacional. Haja esperança, os nossos filhos precisam dela.

*Artigo publicado na edição de dezembro do Jornal de Cá.

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