Livros

Opinião de Afonso Morango

Os livros não são todos iguais e as emoções que despertam em cada leitor são únicas. Leitores e livros sempre partilharam uma relação íntima e não há duas iguais. Alguns livros não têm dono e já estão lidos antes sequer de serem lidos. O tema que tratam já é bem conhecido a priori e, antes de os folhearmos, já sabemos o que vamos ler. São livros “da moda”, livros previsíveis e normalizados. Não suscitam grandes emoções e raramente são alvo de surpresa. Estão fechados num universo em que o fim será sempre imutável. Trata-se, pois, de uma relação fugaz e com pouco significado entre leitor e livro.

Noutras ocasiões, há um certo amor à primeira vista. O leitor e o livro conhecem-se na livraria e vão juntos para casa. A leitura é feita, mas nada de especial surge. São estes os livros que são lidos uma vez na vida, que não marcam verdadeiramente o seu leitor e que, após o término da sua relação efémera, são colocados na estante e abandonados ao esquecimento. Trata-se quase de um casamento por conveniência.

Por fim, há aqueles livros que nos apaixonam eternamente, que fazem connosco jogos de sedução dos quais nunca nos conseguiremos libertar. A sua relação com o autor caracteriza-se pela constante redescoberta. Sucessivas leituras são feitas ao longo dos anos e há sempre espaço para novos sentimentos. São estes os livros que deixam a sua marca, que têm um verdadeiro dono e que não têm lugar na estante do abandono. São o primeiro amor de muitos leitores. Sempre que são abertos e folheados, suscitam tanto ou ainda mais interesse do que na primeira vez. São também estes livros os mais difíceis, aqueles que gostam de desafios e que fazem questão de serem lidos mais do que uma única vez. Os anos passam e nunca são esquecidos. Cada página, ainda que por muitas vezes visitada, parece infinita e a vontade de passar para a seguinte para descobrir como acaba a história já conhecida é cada vez maior ao longo dos anos. Estas vozes nunca serão esquecidas e ecoam no coração do leitor. São casamentos que duram até ao fim, que marcam, genuinamente, as duas partes e onde o esquecimento e o descuido não encontram lugar.

*Artigo publicado na edição de agosto do Jornal de Cá.

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