Lixo da indignação

Opinião de Carlos Gouveia

Às vezes há dias assim, de revolta e indignação sentida. Hoje é dia de dizer não, basta, já chega. Até pode nem dar em nada, como sempre é mais uma chatice. Como a maior parte das vezes que há reclamações, queixas e queixumes de tudo o que está mal à nossa volta. Dos telefonemas e questionários de qualidade daquele problema, daquela avaria que nunca mais resolvem e que nos dão música roufenha e distorcida pelo auscultador do telefone, dizendo repetidamente obrigado por ter esperado, grato pela compreensão, como se fosse a coisa mais educada do mundo. Até preferia que dissessem que não conseguiam resolver, que há problemas que não conseguem resolver e é mesmo assim, é melhor ir a outro lado, a outro serviço que toda a gente sabe que é melhor.

Na minha rua tenho um caixote do lixo, que é recolhido todos os dias e lavado de vez em quando. Até podia ser lavado e desinfectado mais vezes. Toda a gente sabe que a recolha do lixo podia ser melhor, mas o estado de coisas não permite isso e não me queixo, mesmo com as taxas e impostos que pago em nome do tratamento de resíduos maltratados, que nem direito têm ao seu caixote do lixo. Nem me posso queixar da paciência que os trabalhadores camarários têm em limpar todo o lixo indignado que não está no caixote do lixo, quais máquinas de lavar com calcário sem cobre para roubar, televisores do século passado, pneus carecas, folhas de palmeiras esburacadas pelo escaravelho vermelho, lavatórios, latas de tinta das pinturas do verão que já passou. Vai tudo para a rua, faça chuva ou faça sol. Alguém há-de apanhar, logo se vê. Eles apanham e levam. Já ninguém liga, não querem saber. Está sempre tudo mal, não resolvem nada, é sempre a mesma coisa, não vale a pena, são todos iguais.

Somos todos iguais.

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