Existem estudos que demonstram que, desde a gravidez, os bebés percebem os sons vindos do exterior e as emoções de sua mãe.
Não lhe propomos uma viagem tão longa no tempo, mas apresentamos-lhe alguns sinais de que a sua relação com a sua mãe pode não ser a mais saudável do mundo…
Estamos na era em que tudo tem nomes: é a geração sanduíche, são os hipsters, os superalimentos… e agora temos, igualmente, as mães tóxicas. E o que são as mães tóxicas? São aquelas que, ou por terem tido infâncias infelizes ou por outro fator qualquer – como o simples mau feitio, dizemos nós, ou perturbações de personalidade, dizem os psicólogos – são controladoras, fazem comparações e humilham os filhos como ferramenta de controlo, são manipuladoras, gostam de ser vítimas… um sem-número de características que nos deixam a todos de cabelos em pé.
A psicóloga Sónia Parente refere que “normalmente, as mães tóxicas têm personalidades controladoras, que podem ter sido influenciadas pelos seus pais ou que desenvolveram o controle como defesa perante algum acontecimento negativo ou como forma de combater as suas inseguranças e a ansiedade”.
Mas será que este comportamento é potenciado por algum fator em especial? Dizem os especialistas que estas mães foram, também elas, vítimas de relações tóxicas, que transpõem para os filhos. Ao fim e ao cabo, foi assim que cresceram, é assim que vêm as coisas como “normais”. Uma infância em que o mundo é visto como um local inseguro faz estas mães quererem proteger ao máximo os seus descendentes. E como? Controlando e manipulando os filhos, nas suas relações com o mundo e com os outros.
Sónia Parente prossegue, acrescentando que “a sensação de controle da vida dos filhos transmite-lhes uma maior sensação de poder e, logo, de maior segurança. São mães que, em vez de fomentarem a independência dos filhos, promovem uma dependência delas, como forma de evitar sentimentos de solidão. Criam a ideia de que se promoverem mais a independência dos filhos, eles as irão «abandonar». Dependendo da idade dos filhos, usam vários truques. Há mães que são tóxicas até à vida adulta dos filhos, o que vai mudando é o tipo de truques utilizados para que os filhos se sintam mal perante atitudes mais autónomas, como por exemplo tomar as suas próprias decisões”.
Os problemas mais graves surgem, na maioria das vezes, com a entrada dos filhos na idade adulta. De repente, querem formar família segundo as suas regras, decidir onde ir no fim de semana, com quem sair, formam e expressam opiniões. Tudo isto foge do controlo de uma mãe tóxica, que continua a tratar os filhos como se fossem crianças. E os problemas agudizam-se, chegando, estas mães, a querer decidir com quem os filhos casam, quantos filhos vão ter e quando, ou a maneira de os educar. Esta “ingerência” na vida dos filhos mais não é que o medo da solidão e do abandono.
E a chantagem? Pois é, o típico “deixei tudo por ti”, “sacrifiquei-me para te criar”. É a mãe tóxica a cobrar ao filho por este não pensar como ela.
Mas por mais estranho que possa parecer, por detrás deste comportamento está (quase) sempre o amor. Não aquele amor capaz de promover o crescimento pessoal do indivíduo, mas um amor egoísta e interessado, exercido, por vezes de forma sufocante, que pode ser completamente destrutivo.
Estas mães tendem a ter personalidades inseguras, com falta de autoestima e autossuficiência, o que faz com que vejam nos seus filhos uma “salvação”, algo que devem modelar e controlar para ter ao seu lado.
Além disso, elas não conseguem respeitar os limites. Para elas, controlo é sinónimo de segurança; e tendem a projetar nos filhos desejos não realizados.
No entanto, é possível lidar com estas situações. Primeiro, é importante reconhecer que é necessária a ajuda de um profissional, como realça Sónia Parente. “Pelo facto de as motivações serem inconscientes, a ajuda de um profissional para as mães é fundamental e/ou também para os filhos, a fim de saberem lidar com a situação. Sem uma intervenção profissional, o quebrar deste tipo de relação mãe-filho geralmente só acontece por parte do filho e quando ele já tem alguma maturidade para se aperceber das problemáticas de insegurança e de ansiedade da mãe que a levam a alguma “manipulação” inconsciente, muitas vezes com vitimização, e consegue relativizar as atitudes da mãe e não se sentir culpado por isso”. Uma situação que, no entanto, já deixou mossas, uma vez que “foi sempre assim e já foram deixadas marcas. Foram crianças e adolescentes a quem o mundo foi transmitido como sendo assustador, que não desenvolveram competências de pensar por si próprios, têm falta de confiança e de auto-estima e têm tendência a criar relações de dependência” acrescenta a psicóloga.
Além disso, é recomendável estabelecer uma distância física entre o progenitor controlador e o filho ou filha.
Não discuta, porque apenas aumentará a frustração, a raiva e a dor.
Mas rompa o ciclo. Não transporte para os seus filhos a toxicidade da relação que tem com a sua mãe. Só vai estar a produzir adultos infelizes.