Opinião de Raquel Marques Rodrigues
Os livros guardam segredos, revelam mistérios e partilham histórias. E são histórias como esta que ficam gravadas nas prateleiras da minha memória.
A Maria Curiosa é uma senhora de 90 anos, culta, educada e amorosa. Acorda e adormece todos os dias com os seus livros. Encanta-me a sua atenção, interesse e inteligência.
Segreda-me que, sorrateiramente, saía de casa com 16 anos para ir bisbilhotar a feira do livro em Lisboa. A exposição dos livros não ficava longe de sua casa, eram apenas uns metros a pé e a viagem seria rápida. Era provável que sua mãe nem sentisse a sua ausência.
Pelo silêncio da noite escapava-se dos cobertores da sua cama, abria a porta do quarto e ia para a cozinha namorar. Namorar com o seu primeiro amor: o livro.
Mas infelizmente as insónias prometiam incomodar a sua mãe, e a Maria Curiosa foi apanhada em flagrante. Não roubou um beijo sequer e chegou a levar bofetada por estar a ler, mas com um sorriso no rosto e toda a sua convicção afirma: “Raquelinha, os melhores amigos do homem são os livros e os cães, depois as pessoas.”
Fico abafada com os meus pensamentos, mas Maria com a lágrima no canto do olho continua: “quando vim para o lar para acompanhar o meu marido, vítima da doença de alzheimer, tinha uma biblioteca na minha casa. Doei todos os meus tesouros. A maior herança de uma família, os meus livros”.
Agora que seu marido partiu não se sente só, os livros são a sua melhor companhia, dialoga com eles, viaja no tempo e alimenta a sua alma.
Todos nós conhecemos os benefícios da leitura: amplia o conhecimento geral, desenvolve habilidades linguísticas, a criatividade, entre outros, e é uma importante fonte de transmissão de cultura, de informação e desenvolvimento da literacia.
Tal como a Maria Curiosa, eu também desenvolvi o gosto pela leitura muito nova. Movida pelo mistério da origem da criação do mundo, recordo-me com seis anos ler as primeiras páginas de Génesis, primeiro livro do novo testamento da Bíblia Sagrada. Um capítulo da minha infância que me marcou.
Agora que sou mãe, tento estimular o gosto pela leitura à minha filha. Ler é uma capacidade fundamental para o desenvolvimento da sua personalidade em diferentes vertentes: para a sua autoestima, desempenho escolar e a forma como se relaciona com o outro.
E para terminar esta página, se para muitos ler é como respirar, afinal quem é que não tem um bom motivo para abrir um livro?