O megafone só troa à direita

 

Acompanho com interesse relativo as diatribes da política nacional e os tempos que correm trazem a lume uma realidade que tenho constatado desde que a democracia se instalou por terras lusas: o ruído incessante, qual mar revolto… Opinião de João Fróis

 


 

Acompanho com interesse relativo as diatribes da política nacional e os tempos que correm trazem a lume uma realidade que tenho constatado desde que a democracia se instalou por terras lusas: o ruído incessante, qual mar revolto de inverno, produzido pelos sindicatos e afins, só se ouve mesmo quando ao leme está o centro direita!

Percebe-se agora o engenho de António Costa ao incluir na sua base de apoio o BE e principalmente o PCP. A máquina sindical, onde a CGTP tem voz ativa e dominante, parece estar agora adormecida, em sono profundo e letárgico, induzido pelo seu centro nevrálgico na Soeiro Pereira Gomes. Estando o Partido Comunista como suporte do governo do PS, não convém levantar polémicas e lembrar os males que assolam o país. Agora é tempo de serenar a máquina troante e reivindicativa, de manter as hostes apaziguadas e deixar a gerigonça rodopiar, embalando-nos nesta paz aparente em que se quer fazer querer que tudo está bem e a governação é do melhor que já houve em Portugal.

Não nos deixemos enganar por esta manipulação que tem na atual imprensa, descaracterizada e controlada pelos grupos económicos, uma aliada improvável na sua impotência fraturante e denunciadora. Aliar o silêncio sindical à pequenez jornalística é perigoso e preocupante mas perceber que muito do que se faz notícia é gerado pela maior ou menor atividade produzida pelos agentes sindicais, é ainda pior. É esta mentalidade que nos mantém pequenos e presos a sermos dependentes de terceiros. Unimo-nos para protestar e reivindicar, para denunciar os males do capitalismo e as ofensas omnipresentes “aos direitos dos trabalhadores”, organizam-se greves e marchas de lesados e ofendidos e nada parece estar bem. Mas isto só acontece quando o centro direita está no governo. Quando a esquerda governa o País parece entrar, tal como Alice, no reino das maravilhas. Não há ruído, a contestação vai de férias, as greves somem-se e tudo parece estar embalado numa sonolência prazenteira, como que de férias permanentes ao sol algarvio, em que as preocupações deixam de nos inquietar.

É assim este País. A pequenez tolhe-nos o discernimento, mantém-nos presos à insatisfação constante mas assentida como inevitável. Afinal com a esquerda no poder, o dinheiro que não há vai sendo distribuído de modo a tentar agradar a gregos e troianos, alimentando votos futuros. E mesmo que mais impostos sejam lançados não se veem vagas de protesto e indignação. Tudo se compraz numa normalidade surreal, hipnótica e bem orquestrada.

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Sabemos que a memória do povo é curta e que se houver mais dinheiro no bolso, mais benefícios escalados e menos páginas de escândalos nos jornais fica mais fácil ir gerindo a máquina executiva. Costa foi mestre em puxar para si o apoio mais à esquerda para poder governar, mas a sua “piece de resistance” é certamente o efeito paralelo da paz podre que obteve ao “domar a besta sindical”. A fera está inerte e enquanto tal o silêncio permite que, com pezinhos de lã, se vão tecendo os destinos partidários e dos corredores do poder onde se jogam o nosso presente e futuro próximo. Atentemos pois às cenas dos próximos capítulos. Se, por magia, acordarmos ao som de manifestações de professores ou de greves nos transportes ou, ainda, de denúncias de falhas graves nos hospitais, então muito provavelmente o governo caiu e o diabo soltou-se voltando à direita. E, depois, esse diabo, de costas largas, lá vem lembrar que gastámos mais do que podíamos e que agora vamos ter de pagar os juros e entrar nessa maldita roda da austeridade. Num exercício de memória coletiva, se me for permitido, aqui voltarei daqui a um ano para olharmos ao megafone sindical, se ainda cala ou já troa fundo na sua missão de combate “permanente de luta pelos direitos dos trabalhadores”…

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