Por Sónia Parente
A sociedade em que vivemos é extremamente exigente e competitiva. Temos de ser os melhores na escola, no trabalho…Temos de ser as melhores mães, os melhores pais, os melhores filhos, os melhores amigos…
É uma sociedade que não tolera o erro, aterrorizando-nos com a ideia de que podemos ser substituídos ou passados para segundo plano. A obtenção de sucesso e prestígio está associada à perfeição. Tentamos ser perfeccionistas em tudo o que fazemos e se decidimos “baixar um pouco a guarda”, só para descontrair um pouco, logo nos “caem em cima”.
Na busca permanente da perfeição as pessoas vivem agitadas, nervosas, tensas…Cada pessoa tenta lidar com esta pressão à sua maneira: uns valorizam mais uns aspetos que outros, outros arranjam escapes, outros, pura e simplesmente, desligam e tornam-se não perfeccionistas por opção.
Os ideais veiculados pela publicidade suscitam modelos de perfeição a serem seguidos, tendências e desejos compartilhados por grande parte da sociedade, que passam a ser os ideais de felicidade propostos e que promovem a competitividade e a cultura do narcisismo.
Tentamos prever para não errar, mas se erramos como “humanos mortais” que somos, o sentimento de culpa surge e pode cegar e não nos deixar ver com clareza que a perfeição é inalcançável. Apesar de todos desejarmos que tudo dê certo, é com os erros que aprendemos. Mas também não é fácil aceitarmos os nossos erros como uma aprendizagem, visando o incremento da responsabilidade, já que a tolerância é baixa perante os erros dos outros que facilmente se transformam em alvo de críticas.
A sobrevivência psíquica numa sociedade com um ‘Ideal de Ego’ (do aparelho psíquico, segundo a psicanálise) tão forte, pode gerar uma tendência a desenvolver personalidades obsessivo-compulsivas que controlam e prevêem tudo o que possa acontecer, que não podem errar nunca, e com uma tolerância praticamente inexistente. A sociedade insiste em termos de ser sempre melhores do que aquilo que somos e elogios só em casos muitos especiais.
A tolerância é importante nas relações interpessoais, elogiar e ser elogiado faz bem a todos, tentar não errar já é muito bom, aprender com os erros é ainda melhor…
Sónia Parente é psicóloga clínica