No meu quintal nasceu
Uma verdura que cresceu
Fez-se uma tamanha planta
Mais parecia florida manta
Com meu nome, quem diria,
Um lindo pé de maria.
Quando vinha da escola
Junto dele largava a sacola
Lá ficava a tarde a brincar
Até minha mãe me chamar
Dizia-lhe adeus e sorria
Ao meu amigo, pé de maria.
Duas pessoas não o cercavam
Só com três o abraçavam
Pétalas brancas olho amarelo
Formavam um quadro tão belo
Que até Van Gogh o pintaria
Ao meu soberbo, pé de maria.
Com suas flores fazia grinaldas
Na cabeça pareciam esmeraldas
Mas também colares de enfeite
Que vaidosa exibia ao peito
Era assim que me divertia
Com meu saudoso, pé de maria.
Abelhas nas flores pousavam
Com perícia o pólen sugavam
Com ele favos de mel faziam
Repicavam sinos, elas partiam
Era tarde, já nada se via
Só eu e ele, meu pé de maria.
Em sua sombra me ia sentar
Tantas vezes para desabafar
E quando o calor apertava
Carinhosamente o regava
Não fosse entrar em agonia
Meu vistoso, pé de maria.
Quando a procissão passou
Suas flores a calçada atapetou
Na porta pusemos uma cruz
Como homenagem a Jesus
Povo rezava, a procissão seguia
Pisando flores, do pé de maria.
Um dia meu pai se zangou
Com meu irmão que surrou
Seus ramos de escudo serviram
Mas tantos deles se partiram
Na minha face, uma lágrima caía
Dia tão triste, meu pé de maria.
Cresci, fiz-me uma mulher
Desabrochei, como malmequer
Minha mãe, tão bem o cuidava
Suas raízes, tanto adubava
Ambas fossem vivas, bom seria
Meu maravilhoso, pé de maria.
Quando o amor bateu à porta,
De ansiedade, ficava morta
Suas flores eu desfolhava
Pétala a pétala, lhas tirava
Para ver se o amor me queria
Meu colorido, pé de maria.
Resistiu a todos os tempos
Sol, chuva, granizo e ventos
Perdia flores, também verdura
Ficava o tronco, como escultura
Mas com a Primavera renascia
O meu alegre, pé de maria.
Um dia, seus ramos caíram
Flores e folhas sucumbiram
Tinha, enfim, chegado sua vez
Morria de tão velho talvez
Ele que me deu tanta alegria
Jazia no chão, meu pé de maria.
Uma coisa vou prometer
Que Jamais o irei esquecer
Lá bem no meio do quintal
Defronte ao nosso pombal
Onde habitava tanta harmonia
Meu inesquecível, pé de maria.
Poema do livro Pedaços de Maria Ernestina Valada, publicado em 2017