Moradores da Quinta das Correias rejeitam escuteiros

Os moradores “foram por unanimidade contra, dada a proximidade da construção às suas casas, o barulho e o descanso aos fins de semana”, e porque “querem aquele espaço arranjado mas não para aquele fim”, diz Pedro Ribeiro

Depois de aprovada, por unanimidade, no executivo camarário e na Assembleia Municipal do Cartaxo, a proposta de levar os escuteiros para a Quinta das Correias, ajudando a autarquia na manutenção daquele espaço, foi rejeitada pelos moradores

A solução apresentada e aprovada pela Câmara e pela Assembleia Municipal do Cartaxo para manter os espaços verdes da Quinta das Correias passava pela proposta de ali instalar o Agrupamento de Escuteiros 1120 do Cartaxo, ajudando na manutenção do mesmo assim como na sua dinamização. Isto, porque, segundo Pedro Ribeiro, presidente da Câmara do Cartaxo, os escuteiros já haviam pedido ajuda ao município para a disponibilização de um terreno com uma área de cerca de cinco mil metros quadrados onde pudessem construir “uma sede condigna”, assim como usufruir desse espaço e desenvolver as suas atividades escutistas, pois a atual sede não lhes oferece condições de segurança.

Os moradores foram por unanimidade contra, dada a proximidade da construção às suas casas, o barulho e o descanso aos fins de semana”, e porque “querem aquele espaço arranjado mas não para aquele fim”.

Pedro Ribeiro

Recorde-se que a proposta da Câmara Municipal foi no sentido de levar à “desafetação do domínio público municipal de uma parcela de terreno sita na Quinta das Correias e respetiva afetação ao domínio privado”, numa área de 4107 m2, mantendo-se a sua finalidade, ou seja, como equipamento de utilização coletiva, passando a mesma a ser ocupada pelos escuteiros. Esta proposta foi aprovada, por unanimidade, pela Câmara Municipal, no dia 17 de abril, e submetida a sua deliberação em Assembleia Municipal, que a aprovou, por unanimidade, na semana seguinte, a 26 de abril.

Na última reunião do executivo (7 de agosto), o presidente da Câmara deu nota da “unanimidade [dos moradores] contra essa nossa pretensão”, mesmo depois de transmitir aos residentes que, “quer a Câmara quer a Assembleia quando deliberaram por unanimidade, foi no pressuposto de que seria uma mais-valia para os moradores, que o espaço pudesse estar ocupado pelos escuteiros, que nos iriam ajudar na própria manutenção do Bosque dos 200 Anos e que iriam dinamizar aquele espaço”. Segundo Pedro Ribeiro, os moradores “foram por unanimidade contra, dada a proximidade da construção às suas casas, o barulho e o descanso aos fins de semana”, e porque “querem aquele espaço arranjado mas não para aquele fim”.

“Agimos todos de boa fé a pensar que era uma boa solução uma vez que os Escuteiros também tinham um problema de segurança nas suas instalações”, garante Pedro Ribeiro, que percebe que, nesta altura, há uma “profunda desilusão das pessoas que compraram casa ali e tinham perspetivas de qualidade de vida que nós hoje sabemos que não têm. Toda a área supostamente verde não está tratada, são cerca de cinco hectares e que nós assumimos que não temos tido a capacidade de o fazer. Ao longo dos anos, há mais de dez, se calhar, que aquela zona não é verde como estava no projeto”, reconhece o presidente. “Eu penso que nesta altura o processo é prejudicado pelo estado de degradação do espaço e as pessoas querem mesmo é uma solução visível de reabilitação do espaço verde e não uma edificação, ainda que nós disséssemos que a estrutura era em madeira, em que os nossos arquitetos se iriam pronunciar, o espaço para as casas seria, no mínimo, de 10 a 15 metros”. Mas com as pessoas “frontalmente contra” este projeto, Pedro Ribeiro transmitiu aos moradores que “estas coisas também têm reversão”. E, nesse sentido, o presidente refere que, “naquela reunião de três horas” com dezenas de moradores da Quinta das Correias, “também retirámos a boa vontade das pessoas e inclusive nós transmitimos que poderia ser interessante a constituição de uma associação de moradores e, em conjunto, a Câmara debater com eles e com o projetista, o arquiteto Diogo Burnay, soluções de alteração do próprio projeto de zonas verdes para algo que nós pudéssemos sustentar – outro tipo de espécies que pudessem ser plantadas naquele espaço que não exijam tanta manutenção e que nós tenhamos capacidade, no tempo, de o manter cuidado”.

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A própria iniciativa do Bosque do Centenário hoje está à vista – aquele polidesportivo que ali está já foi, já era, está completamente destruído há cinco ou seis anos, o matagal e toda a degradação que ali está, seguramente prejudica a qualidade de vida que era a expectativa que as pessoas tinham quando pagaram (e pagaram bem) para ir para ali.

Vasco Cunha

Também o vereador Vasco Cunha disse, em reunião de Câmara, ter sido alertado relativamente ao descontentamento das pessoas para esta solução. “Em função disso, tentei perceber qual era a dimensão do problema e de facto percebi que era grande”, constatando “uma profunda desilusão [dos moradores] relativamente à expectativa que tinham quando se foram ali instalar”. O vereador acredita que “é sobretudo essa expectativa gorada, anos após anos, que as leva a rejeitar qualquer tipo de solução que vá contra aquilo que foi a sua perspetiva original de quando foram para ali. E, portanto, nesse sentido, estou perfeitamente de acordo com a intenção de se fazer a reversão dessa posição”.

Vasco Cunha lembra ainda que “a própria iniciativa do Bosque do Centenário hoje está à vista – aquele polidesportivo que ali está já foi, já era, está completamente destruído há cinco ou seis anos, o matagal e toda a degradação que ali está, seguramente prejudica a qualidade de vida que era a expectativa que as pessoas tinham quando pagaram (e pagaram bem) para ir para ali”, para além de que “há muita coisa que não está ocupada e que seguramente não é convidativa para quem quiser mudar de casa ou instalar-se no Cartaxo”, expõe o vereador do PSD.

Ao que o Jornal de Cá conseguiu apurar junto de moradores da Quinta das Correias é que, realmente, foi-lhes vendido um espaço para viver com alguma qualidade, em que pagaram para ter os espaços verdes, contemplados no projeto daquela urbanização, os quais nunca tiveram, nestes 14 anos. Mais recentemente, há cerca de três anos, dizem que se falou na hipótese de fazer ali um circuito de manutenção, mantendo-se contudo num espaço público, surgindo agora esta solução que, dizem os moradores, foi discutida e aprovada pelo executivo e só depois apresentada aos moradores.

Este é um assunto que deverá ter novos desenvolvimentos, até porque, segundo Pedro Ribeiro, vai ser levado à próxima reunião de Câmara, e o qual o Jornal de Cá está a acompanhar.

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