No princípio de cada ano é usual formularmos os desejos do que gostaríamos que acontecesse no Novo Ano. Não que tivéssemos a certeza de que, por tanto pedir, tais coisas viessem a acontecer. Mas, porque nos sentimos melhor com nós próprios se o fizéssemos. No entanto, os dias vão passando como no ano anterior e as únicas coisas que, afinal, mudamos são o calendário e a agenda.
Isto não impede que voltemos a pedir para o ano que começa, antigos ou novos desejos. Os recentes anos de austeridade a todo o custo, sem aparentes benefícios no erário público, vieram agravar as condições sociais dos portugueses, que deverão levar alguns anos a corrigir. Por isso, no nosso íntimo social não podemos deixar de refletir sobre os níveis de pobreza que, no passado recente, se agravaram no país, expressos ou ocultos, sobretudo quando estes afetam as crianças. Por isso, desejamos que neste ano novo possamos, coletivamente, acreditar que cada vez vá sendo menor o número de famílias que não consegue garantir uma alimentação adequada, e cada vez, também, o número de portugueses em risco crescente de pobreza vá decrescendo.
Da mesma maneira, queremos acreditar que no Novo Ano não aumentem mais as desigualdades, o desemprego, o trabalho precário, o endividamento, a emigração forçada dos jovens, a degradação das condições sociais, o desmembramento familiar, etc.. Tudo razões, que nos fazem desejar que, seriamente, continuem a serem refortalecidas as condições do Estado Social, no contexto dos valores civilizacionais que dignificam a condição humana num Estado moderno e solidário.
No nosso deambular diário, apercebemo-nos que somos um país acabrunhado e triste, a perder a sua classe média, feito de contrastes entre o rural e o urbano. Particularmente, um país e um povo que, nos últimos anos, foi deixando de acreditar nas suas potencialidades. Hoje, desejamos que continue renascida a esperança que novos caminhos são possíveis. Somos uma nação europeia com cerca de 9 séculos de história e de heroicas epopeias, membros de pleno direito de uma União Europeia, supostamente um espaço de solidariedade. Por isso acreditamos que 2017 vai ser melhor e o começo de um tempo novo.
As políticas caritativas, por mais bem intencionadas que sejam não resolvem, só por si, situações sociais estruturais e a pobreza não é, certamente, uma praga nem uma inevitabilidade. Mas é, de certeza, uma vergonha e uma afronta aos valores da cidadania que não pode continuar! Vamos, coletivamente, fazer com que 2017 seja um ano com mais esperança e felicidade para os portugueses e que, fundamentalmente, torne o Mundo um local menos perigoso!
Crónica publicada na edição de janeiro do Jornal de Cá.