Vamos pensar o mundo de um ponto de vista global, como se Portugal não existisse
1 O planeta é habitado por 7.000 milhões de pessoas. Dois terços dessas pessoas, mais de 2.000 milhões, têm um rendimento de até 2 dólares por dia. Estão, por isso, disponíveis para trabalhar por 100 euros por mês, o que já é uma subida de cerca de 100 por cento.
Além disso, o salário médio é de 3.263 dólares nos EUA, de 2.886 na França, (1.290 em Portugal), mas de 778 no Brasil, 656 na China, 295 na Índia e 279 nas Filipinas. Estes factos globais são uma das forças a atuar de facto no mundo.
2 Prevê-se que em 2027, portanto dentro de 15 anos, a China será a maior economia do mundo e, em 2050, será já o dobro da dos EUA. A Europa será então uma zona periférica, num eixo China-EUA, com os países emergentes a afirmarem-se como força dominante em várias dimensões. Em 2032, dentro de 20 anos, o PIB global dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) já excede o do G7 (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão). É a esta transição que estamos a assistir atualmente. Estes são processos que estão a dar forma ao mundo.
3 Até meados do século passado, o mundo estava dividido em países e a competição económica era organizada por países. Mas em 1947 foram assinados os acordos do GATT que optaram pela concorrência universal e, em 2001, dá-se a adesão da China à OMC (Organização Mundial do Comércio). Ou seja, instaurou-se o princípio dos vasos comunicantes. E negoceia-se para que a Rússia possa aderir. Esta é a forma que foi escolhida para o mundo.
4 China significa “centro do mundo” e a cultura chinesa tem uma identidade forte de cerca de 5.000 anos. E tanto os cidadãos como o Poder da China sabem disso. Durante séculos, a China manteve-se fechada sobre si mesma e perdeu a rota da modernidade. Mas no final do século XX acordou e está hoje a procurar criar no mundo o lugar e o papel a que se acha com direito.
5 A Europa alimentou o seu enriquecimento com as colónias, mas a descolonização já foi. Criou para si uma filosofia de vida, uma cultura e um estilo de vida que não lhe permitem fazer frente ao processo global. Até já Eduardo Lourenço, que ganhou um grande prémio da Europa, reconhece o “crepúsculo europeu”. Basta ver como o declínio demográfico europeu exige um fluxo permanente de imigrantes que dão nova configuração social, talvez islâmica, à Europa. E os EUA, ainda com grande poder, estão perdê-lo em termos relativos.
6 O Ocidente criou uma civilização que, em termos globais, se tornou preponderante. Sobretudo nos séculos XIX e XX. Mas esse “reinado” mundial está a terminar. Aquilo a que estamos a assistir é o fim de uma época e o início de outra.
A China e todo o Sudoeste Asiático vão dominar economicamente, isto é, política, militar e culturalmente. Ou seja, vão configurar o novo mundo à sua maneira e segundo os seus interesses e padrões. Os ocidentais ainda pensam que o modelo deles (o nosso) é a única matriz, mas já estão a ser desmentidos na realidade. Dentro em pouco, o modelo ocidental será exótico e impotente, face à matriz oriental.
7 Entretanto, temos andado a discutir e a fazer o quê?