Não aceitamos viver sobre o septo do perigo nuclear

Opinião de Renato Campos

A água para além das suas especificidades naturais e vitais, constitui, atualmente, um dos fatores fundamentais de uma política de desenvolvimento sustentável, que tenha como objetivos o acréscimo da capacidade produtiva das regiões e a melhoria da qualidade de vida das populações. No caso da Bacia Hidrográfica do Tejo português, esta constitui, sem dúvida, o eixo condicionante e indutor de todo um processo de desenvolvimento da região ribatejana. De facto, é inquestionável, que o nível da sua capacidade produtiva provém, fundamentalmente, do nível dos recursos hídricos da região. De outra maneira, os atuais campos férteis da lezíria, mais não constituiriam do que uma improdutiva extensão de terras baixas pantanosas. Daí, a extraordinária importância para esta região do Rio Tejo e de toda a sua Bacia Hidrográfica.

Ora isto vem a propósito da incompreensível passividade que notamos por parte da sociedade civil, perante o grave atentado e eminente perigo que representa para nós a Central nuclear espanhola de Almaraz, situada a cerca de 100 km. da fronteira, nas margens do Tejo e que utiliza as suas águas para refrigeração dos seus reatores. A sua existência já para além do limite previsto e a notícia da construção de um novo armazém de resíduos altamente tóxicos, sem que Portugal fosse prévia e legalmente ouvido, face aos previsíveis impactes ambientais, indicia que, afinal, o encerramento da Central previsto para 2020, vai ser de novo prolongado, com todos os perigos que isso representa, face ao seu envelhecimento e a alguns problemas que já têm sido noticiados no seu funcionamento.

A história recente recorda-nos e alerta-nos para os gravíssimos desastres nucleares ocorridos em Chernobyl e Fukushima, onde transpareceu a terrível ideia de que a ciência descobriu como se constrói uma Central, mas parece que “depois deitou a chave ao mar” e, não se sabe ainda bem, como em caso de emergência desativar a mesma! As consequências desses desastres foram terríveis e ainda hoje o serão por muitas gerações!

Claro que esses efeitos poderão ser muito mais graves para as regiões a jusante do Tejo (não só!), nomeadamente na bacia hidrográfica portuguesa onde se situam as melhores zonas produtivas do país e onde também, existem as maiores captações da água do rio que, grosso modo, abastecem cerca de 4 milhões de pessoas, especialmente, toda a zona do Vale do Tejo e Grande Lisboa, para além claro, de todo o possível e gravíssimo impacto ambiental que iria afetar milhões de pessoas de uma vastíssima região, concelho de Cartaxo incluído.

Por todas estas razões, espera-se das autarquias envolvidas e das populações, um permanente alerta e uma urgente intervenção, mais musculada, coordenada e incisiva, junto de quem de direito, de forma a que sejam preservados os direitos de uma população que não quer nem aceita viver sobre o terrível septo do perigo nuclear.

Crónica publicada na edição de fevereiro do Jornal de Cá.

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