Não dar o peixe, mas ensinar a pescar
Opinião de Sónia Parente, Psicóloga Clínica e Mestre em Psicologia Educacional
É com alguma frequência que vemos uma superproteção por parte dos pais em relação aos filhos cada vez até mais tarde. Como é típico, os pais não veem (ou não querem ver) que os filhos estão a crescer e continuam a fazer muitas coisas que eles já têm idade para fazerem sozinhos, mas quando isso cai no exagero…
Frequentemente nos restaurantes vemos pais a cortar a carne aos filhos, embora estes já tenham tamanho e idade suficiente para o fazer. Temos conhecimento de filhos que dormem com os pais até à pré-adolescência, bem como adolescentes que ainda não se sabem vestir sozinhos.
Há pais que tentam prolongar a infância cada vez até mais tarde mas depois lamentam que os filhos sejam demasiado infantis. Não podem exigir comportamentos mais maduros, por um lado, quando promovem a sua infantilidade, por outro.
As crianças têm naturalmente um instinto de autonomia que pode ser contrariado inconscientemente pelos próprios pais, que creem estar a fazer o melhor por eles, é certo, mas que prolongam a sua dependência. Eles querem ser super-pais ou super-mães, ou estender a infância do filho por receio de que o seu crescimento implique uma autonomia e um afastamento que gera angústia neles próprios. Para colmatar solidões e vazios dos pais gerados por casamentos insatisfatórios ou vidas profissionais frustradas, os próprios pais ficam dependentes da dependência dos seus filhos em relação a eles e alimentam-na, justificando para si próprios as atitudes que travam o crescimento natural e saudável dos filhos com ideias de serem “pais-galinhas” que apoiam em tudo o que podem. Mas essas atitudes não são benéficas para os filhos. Mais tarde ou mais cedo, esses filhos começam a evidenciar sintomas de algo que está mal e os pais não compreendem já que “fizeram tudo por eles”.
Se não forem estimulados pelos pais, as crianças têm tendência a não crescer de uma forma harmoniosa nas várias áreas, até porque se não aprenderem (porque não lhes é ensinado e fomentado) a fazer as suas coisas sozinhos obviamente que não estão aptos a fazê-lo. Como se costuma dizer, não devemos dar o peixe, mas sim ensiná-los a pescar, dando-lhes ferramentas para que possam ser independentes no seu quotidiano. Por exemplo, é embaraçoso para a criança almoçar com os colegas e não ser suficientemente independente para o fazer sem a presença dos pais. Poderá até ter tendência para evitar fazê-lo por insegurança, inventando desculpas. Essa super-protecção leva a que a criança/adolescente crie a ideia de que não consegue fazer algumas coisas sozinho, o que irá afectar a sua auto-confiança e auto-estima no geral.
Será que facilitar, aos filhos, a saída do ninho não fará com que o voo seja menos complicado?