Nos 90 Anos do “Monumento Comemorativo da Batalha de Ourique” – Uma homenagem à arte e não à guerra

‘Bagos da Memória’ por Pedro Gaurim

Em 1932, uma semanas após a Páscoa, no domingo de 3 de Abril, inaugurou-se o “Monumento Comemorativo da Batalha de Ourique”, nome oficial inscrito na estátua, que usou a personificação da vitória. O autor foi o escultor (relativamente desconhecido) António da Costa, nascido na freguesia de São Nicolau em Lisboa, na Rua dos Correeiros, a 16 de Setembro de 1899. Iniciou o curso de Escultura na Escola de Belas Artes de Lisboa (actual FBAUL) em 1913, sendo colega de curso de Leopoldo de Almeida, autor da Estátua de Marcelino Mesquita, e pelo processo individual, o melhor aluno daquela geração…

O monumento foi promovido pelo General Vitoriano José César (1860-1939), enquanto presidente da Comissão de História Militar, fundada em 1922 e associada à Revista e ao Arquivo Histórico Militar. A Vitória, com peso na ordem das centenas (ou milhares) de quilos, sendo uma das maiores peças de bronze de todo o Ribatejo, e um dos mais expressivos memoriais militares de Portugal, terá gerado dificuldade técnica acrescida na sua execução, devido ao balanço da figura para a frente, desequilibrando o centro de massa da figura, aspecto que se comprova observando lateralmente.

Na tradição europeia de estátuas e memoriais, as “Vitórias” são sempre mulheres aladas, vestidas com uma túnica grega antiga, designada por quiton. Generalizaram-se depois do impacto causado pela descoberta da estátua da Vitória de Samotrácia (220-190 a.C.), em 1863, na ilha grega de onde tomou o nome, por Charles Champoiseu (1830-1909), quando foi cônsul francês em Edirne (Turquia), que desenvolvia também trabalhos arqueológicos. A Vitória de Samotrácia, com os seus 2,45 metros de altura é um pouco mais baixa que a de Vila Chã, que deve ter cerca de 3 metros. Sente-se na expressão, a influência do escultor Antoine Bourdelle (1861-1929), de quem o autor foi discípulo em Paris.

No lado norte da base da estátua, uma inscrição aludindo à fundição, em 1931, na Fábrica [de Material de Guerra] de Braço de Prata, que fora inaugurada em 1907, na Rua Fernando Palha em Marvila.

Há um conjunto heráldico de 8 brasões de bronze, na base do plinto, colocados de forma pouco feliz, com uma inclinação que dificulta a leitura. Bem como, um conjunto de quatro figuras, “D. AFONSO HENRIQUES” (Este) e três cavaleiros que o acompanharam, sentados, a descansar, encostados na Vitória: “GONÇALO MENDES DA MAIA” (Norte), “FERNANDO MENDESDE BRAGANÇA” (Sul) e “GARCIA MENDES/ ALFERES MOR (Oeste).

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A Batalha de Ourique, decorrida em 1139, na verdade decorreu em local desconhecido. O General Vitoriano César defendeu e argumentou sobre a possibilidade de ter ocorrido nos campos de Vila Chã de Ourique, no opúsculo de 45 páginas A Batalha de Ourique (1926). Este monumento e o de homenagem aos combatentes mortos na Grande Guerra e na Guerra do Ultramar, são os dois principais memoriais militares no Concelho do Cartaxo. É urgente iniciar um processo de classificação deste imóvel, sem a qual, a protecção, é inexistente.

*Artigo publicado na edição de abril do Jornal de Cá. O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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