Neste regresso de férias (para quem as teve), não posso abordar só um assunto. São muitos acontecimentos, problemas, tristezas e alegrias que me levam a escrever estas “Notas soltas de um Setembro chuvoso”, duplamente chuvoso, na meteorologia e no país.
1 Ouvindo os políticos na TV (e não só em Portugal), todos querem mais “crescimento” económico para, dizem eles, ultrapassar a crise. Não dizem como, claro. Mas chamo a atenção para uma frase simples mas decisiva: “não pode haver crescimento infinito num planeta finito”. Pensemos nisso.
2 A senhora que dirige o “Banco Alimentar” referiu há dias que há pessoas “viciadas na pobreza”. Perguntem a um pobre se quer ter um dos milhões (dos milhares que se “perderam” e “desapareceram” no BES). O que diria?
3 Um autor consagrado (N. Chomsky), há muito que analisa os modos como se utiliza publicamente a linguagem para manipular o nosso pensamento. Diz ele que “infantilizam” os discursos. Que dizer então do que nos contaram sobre o “banco bom” (a fada boa) e do “banco mau” (o lobo mau) a propósito do ex-Banco Espírito Santo? Afinal, parece que ficámos a perder (e a pagar) nos dois. Muito. Todos nós. Mas lá que ficámos quietos, ficámos.
4 Começou mais um ano lectivo. É o quarto ano deste governo que muito fala de “rigor”. Ao regresso à escola do passado com os exames, as turmas cada vez mais numerosas, os professores desclassificados, aliam, infelizmente, também a incompetência (falta de professores colocados a tempo e a horas, entre muitos outros “incidentes”). Protestam professores, pais e autarcas. Onde está o rigor? Mas eles sorriem, contentes.
Não pode haver crescimento infinito num planeta finito. Pensemos nisso.
5 Será que os políticos perdem o contacto com a realidade? Só se o quiserem. Não ouvem as pessoas, os parceiros organizados, as petições porque não querem e acham que só eles têm razão. Não se diz que “ o pior cego é aquele que não quer ver”? Desse mal sofrem os partidos e o governo. Oiçam o povo. Mas, então, nós temos que falar, que exigir, que nos organizarmos. Somos demasiados resignados. Na vida não há fatalismos (às vezes há fatalidades, bem sei) e o nosso país será o que dele fizermos.
6 Quero saudar o projecto “Memórias Fotográficas” do Cartaxo. Sem memória não há presente nem futuro. Que bom saber quem são as pessoas de fotos do tempo dos nossos pais e dos nossos avós. E assim será com os mais novos. Sem raízes, nada cresce. Obrigada.
7 Esta crónica tem como título permanente “Pringles e Felicidade”. “Pringles” é a imagem de um alimento que não alimenta (mas engorda), de batatas que não são batatas e de sabores artificiais. Gostamos e vicia. Representam, para mim, o consumo inútil. A felicidade é o que todos buscamos e sem ela não podemos viver. São momentos. De bem estar, de alegria, de dignidade e de partilha.
E, felicidades para o Jornal de Cá.