“O AAC é a coletividade de referência da ginástica no concelho do Cartaxo”

Quem o diz é a presidente da coletividade, Maria João Oliveira, depois de apresentar os três atletas do Cartaxo que este ano representam Portugal no Campeonato Mundial de Ginástica, na Bulgária, em novembro

Isabel Barba, André Pareike e Martim Botelho representam a seleção nacional no próximo Campeonato Mundial de Ginástica. Um feito para os atletas e para o Ateneu Artístico Cartaxense, que há mais de 20 anos treina campeões, o que não deixa de ser uma dor de cabeça pela falta de apoios.

Maria João Oliveira, presidente da direção do Ateneu Artístico Cartaxense (AAC), juntamente com Luís Major, vice-presidente, e mais dois membros da direção da coletividade, Cristina Póvoa e Nilza Aguiar, chamaram ontem (20) os jornalistas ao AAC para dar conta do apuramento de três dos seus ginastas para o Campeonato Mundial de Ginástica, a decorrer este ano em Sofia, na Bulgária, em Novembro.

Também presentes estiveram os treinadores destes atletas, Filipe Costa (Trampolins) e Ana Guimarães e Edite Silva (Tumbling), todos eles ex-ginastas do AAC que também participaram nestes campeonatos, para os quais agora preparam novos atletas. Segundo Edite Silva “já desde 1996 que colocamos ginastas em campeonatos do mundo e portanto tem sido um empenho de todos essa conquista e vamos trabalhar para continuar assim”. Ana Guimarães (Nucha) sublinha que “este é o primeiro ano que colocamos um ginasta sénior no campeonato do mundo”. Isabel Barba conseguiu apurar-se para o Campeonato do Mundo de Seniores, vai representar a seleção nacional, depois de já ter participado em quatro campeonatos mundiais por idades. Também no Tumbling, André Pareike vai pela segunda vez ao campeonato mundial de ginástica. A primeira vez foi aos 11 anos e, segundo a treinadora Ana Guimarães “ele esteve estes anos todos a trabalhar para conseguir ir este ano novamente”.

Por sua vez, Filipe Costa fala do seu primeiro atleta nesta competição. “O Martim Botelho vai ser o nosso representante na modalidade de Trampolins e surge depois de um interregno de cerca de oito anos (a última participação foi no Campeonato de Ginástica de 2009, na Rússia). Antes disso a nossa participação era constante, desde 1994, sensivelmente, mas devido a alguns problemas, nomeadamente o incêndio, o Martim veio abrir portas a esta nova prova. Como treinador, esta é a primeira vez que coloco um ginasta em campeonatos do mundo e estou muito grato pelo trabalho que ele, a Andreia do corpo técnico e também os pais têm feito ao longo destes anos para que isto seja possível”. O treinador tem esperança que o jovem atleta “abra portas para esta e outras modalidades a outros atletas do clube”.

Historial do clube é único no concelho
“O AAC é, desde sempre, a coletividade de referência da ginástica no concelho do Cartaxo”, afirma Maria João Oliveira, sendo que, “mais recentemente, temos um historial de várias participações em campeonatos do mundo e da Europa”, dando como exemplo os atuais treinadores. “Há mais de 20 anos, que o Ateneu tem colocado ginastas no campeonato do mundo, no Tumbling”, diz Luís Major, adiantando que também nos Trampolins o conseguiram vários anos, tendo havido um interregno “por dificuldades a nível de equipamentos, após o incêndio em que o Ateneu ficou reduzido a quase nada de equipamentos, em 2008”. Contudo, “nos últimos anos temos vindo a conseguir repor esses equipamentos”, afirma o vice-presidente da coletividade, reconhecendo que “com isso também se tem conseguido ter melhores condições de treino e novos resultados”.

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Uma grande conquista para o clube, nomeadamente para a modalidade de Tumbling, aconteceu há cerca de três semanas, com a pista cedida pela Federação de Ginástica Portuguesa, “como reconhecimento do trabalho que é feito neste clube e que era já uma ambição de alguns anos, de modo a conseguirmos repor uma condição excelente para o treino”, diz Luís Major. “Conseguimos colocar mais um equipamento fundamental para o treino do Tumbling”, reconhece o vice-presidente. Ao que Maria João Oliveira acrescenta que “este é um equipamento que custa à volta de 15 a 16 mil euros, o que para era nós era incomportável”, mas este ano surgiu esta surpresa”, apesar de já terem esta pista há algum tempo.

Temos um historial de várias participações em campeonatos do mundo e da Europa.

Maria João Oliveira

Vítor Varejão, presidente da direção da Associação de Ginástica de Santarém, foi convidado a estar presente nesta apresentação do AAC, diz conhecer bem este clube. “Falar do Ateneu Artístico Cartaxense é dizer que é um clube fundador da Associação de Ginástica de Santarém. É um clube que teve, ao longo da sua vida, milhares de ginastas, e tem sido um clube fundamental para a associação de ginástica de Santarém, em diversas disciplinas gímnicas. Estamos a falar de um clube que nunca parou a sua atividade de ginástica, teve ginastas de alto gabarito, que pertenceram a seleções nacionais, e tem treinadores de referência a nível nacional. Não obstante o concelho do Cartaxo estar nesta encruzilhada, entre a capital de distrito e a capital do País, dá meças a muitos clubes do País”, define o responsável, acrescentando ainda o seu “espírito de solidariedade”.

“Como sou presidente da Associação Distrital há muitos anos tive oportunidade de assistir ao longo dos anos a muitos dos ginastas do Ateneu Artístico Cartaxense que foram a campeonatos do mundo, absolutos e por idades”, reconhecendo também agora que “os ginastas conseguiram brilhantemente, mais uma vez, um apuramento, e todos nós estamos aqui por vocês”, dirigiu-se Vítor Varejão aos ginastas do AAC, esperando que todos eles consigam alcançar o nível de Isabel Barba, “que é de facto um exemplo não só como ginasta mas também como pessoa”.

Dificuldades do clube
E se, por um lado, é um grande orgulho para todos os presentes (de referir que os pais dos atletas marcaram presença nesta apresentação) é, por outro lado, uma dor de cabeça pelos custos que estes campeonatos implicam.

Para Luís Major, “esta questão dos campeonatos do mundo tem sido algo muito complicado para as direções do Ateneu, para os alunos, treinadores e para os pais, porque estas deslocações têm custos enormes, e este ano até nem é dos piores, porque vai acontecer na Bulgária, um local não muito dispendioso, mas já tivemos anos em que foi na Rússia, nos Estados Unidos da América e por ai fora”. Segundo o vice-presidente do AAC, “os apoios vêm do clube, quando há essa possibilidade, dos pais e de algumas empresas a quem nós recorremos para, de certa forma, darem algum apoio financeiro para estas deslocações, porque não são apoiadas nem financiadas pelas instituições públicas e são todas a cargo dos atletas”.

O Ateneu no seio da nossa comunidade deverá ser olhado

com mais atenção

Luís Major

As despesas começam logo pelas inscrições na prova e nos equipamentos – só nestes dois itens, cada atleta tem de gastar mais de 300 euros. Mas depois há as deslocações, a alimentação, a estadia… “Este ano não é exceção, mas podemos dizer que conseguimos o apoio de três empresas do concelho que, até esta data, disponibilizaram verba para ajudar nesta deslocação. De resto, em termos de apoios estatais e municipais não há nada, até hoje”, lamenta, sublinhando que “estamos a falar de uma coletividade que no ano passado teve 590 praticantes, em 14 modalidades, ou seja, estamos a falar da coletividade do concelho do Cartaxo que mais modalidades tem e que mais atletas tem, certamente, e se calhar do distrito – não sei se haverá alguma coletividade com esta dimensão, pelo menos a nível de modalidades”.

“O Ateneu no seio da nossa comunidade deverá ser olhado com mais atenção”, considera Luís Major. “Nós sabemos que os tempos têm sido difíceis, mas nós temos aqui uma coletividade que é autónoma, com instalações próprias e um orçamento que ronda os 14 mil euros mensais, montantes muito elevados e que praticamente são suportados sem apoios nenhuns externos, a não ser quotizações dos sócios e as mensalidades pagas pelos pais dos atletas”. Os dirigentes da coletividade reconhecem a grande dificuldade que têm em ajudar estes atletas que vão ao Campeonato do Mundo, até porque, segundo o vice-presidente, “nós temos que olhar para a coletividade como um todo e apoiar todos os atletas e não apenas dois ou três, temos que gerir as contas para o ano inteiro”.

As famílias são o orçamento suplementar da ginástica em Portugal, sem elas a ginástica em Portugal não teria o sucesso que têm hoje

Vítor Varejão

“As famílias permitem que a ginástica consiga sobreviver, não só no concelho do Cartaxo, não só no distrito de Santarém, mas no País. As famílias são o orçamento suplementar da ginástica em Portugal, sem elas a ginástica em Portugal não teria o sucesso que têm hoje”, afirma o presidente da direção da Associação de Ginástica de Santarém, que prometeu que “a Associação estará sempre solidária, infelizmente o apoio que temos dado sempre que vão a campeonatos é ridículo, mas o orçamento que temos anual é praticamente o mesmo que o AAC tem mensalmente”, lamentando que o apoio dado nestas e noutras circunstâncias não possa ser maior.

Até porque Vítor Varejão diz conhecer muito bem a realidade do AAC, reconhecendo “o trabalho dos treinadores e da direção do Ateneu, que fazem um trabalho muito para além da sua obrigação, com sacrifício pessoal e familiar, e, por vezes, com enorme sacrifício físico”. Para além disso, “os atletas do AAC apresentam-se a um nível excelente, com um corpo técnico extraordinário”, diz o dirigente distrital, acrescentando que “eu como presidente da associação distrital gozo do vosso prestígio. Em reuniões da Federação, eu sinto que me respeitam mais porque vocês me emprestam um pouco do vosso brilho”, reforçando que “estou à disposição do AAC, não só pelo vosso esforço mas também porque vocês merecem, são um exemplo de capacidade, esforço, trabalho, mas também de solidariedade”.

Remodelações marcam nova época desportiva
Este momento de apresentação dos campeões do AAC também serviu para dar a conhecer as melhorias em vários espaços da coletividade, obras que vieram beneficiar as instalações, não só no andar superior, onde se encontra a biblioteca e o museu de miniaturas do AAC, que conta a história da coletividade e do concelho, mas também nos espaços mais frequentados por pais e atletas. Ainda por aqui se encontram centenas de troféus, assim como diverso mobiliário antigo, que há muitas décadas fazia parte das atividades de lazer que ocupavam os tempos de muitos jovens e adultos que ali se encontravam para jogar cartas e bilhar.

Através da visita guiada proporcionada pela direção da coletividade pudemos constatar o esforço feito nos últimos anos na criação de melhores condições de treino, nomeadamente na sala de Judo e na sala do Ballet e Hip Hop, mas também em espaços onde os familiares dos atletas podem aguardar, confortavelmente, pelos jovens atletas, vendo televisão ou usando a rede wireless existente no edifício.

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