O mundo caminha para o abismo e ninguém parece conseguir evitar este suicídio.
O choque de civilizações está a acontecer e a Síria é apenas a face visível de um fenómeno global de ataque aos pilares da sociedade ocidental.
A habitual tolerância europeia, tão bem expressa na livre circulação de pessoas e bens é hoje um alçapão onde cabem todos os medos e erros estratégicos que permitiram que o velho continente se tornasse um barril de pólvora.
A islamização da Europa é hoje um facto incontornável. E e a habitual bonomia com que se olham as diferenças está a mudar, face à agressividade latente daqueles que já nasceram dentro das fronteiras ocidentais mas se mantêm fiéis à cultura e religião dos países de origem. E essa cultura (?) é hostil para com a democracia e os valores civilizacionais que formaram a Europa desde a Grécia antiga. A inclusão das minorias e a aceitação dos estrangeiros sempre foi fazendo parte da formação deste caldo cultural que se foi formando a partir das migrações milenares em torno do Mare Nostrum. As guerras sempre foram abertas e os choques civilizacionais assumidos entre as partes, contundentes e massivos. Foi assim entre Gregos e Troianos, entre Romanos e povos bárbaros, entre Muçulmanos e cristãos. E entre as quedas e ascensão dos impérios sempre foi havendo uma lógica de reconstrução e avanço, incorporando as diferenças e somando esforços para uma sociedade mais plural e profícua.
Mas nos dias de hoje, com a agudização dos blocos continentais, assiste-se a uma estratégia diferente, de invasão lenta e imparável da velha Europa. Tal como um vírus que o corpo aceita como benigno mas que, à medida que alastra, vai mudando ou mostrando o seu ADN original, tornando-se agressivo e viral, corrompendo o sistema e tomando-o de assalto, ganhando o comando das operações. É assim que as comunidades muçulmanas estão a agir na Europa. Presentes há largas décadas, multiplicam-se a uma velocidade absurda face à baixíssima natalidade dos cristãos e já com nacionalidade dos países onde evoluem vão ganhando peso populacional e aos poucos, impondo as suas leis. E estas não são a favor dos valores europeus e que a democracia defende. São os que nos países de origem professam há séculos e pouco têm evoluído, segregando por género e castigando quem pratica atos que a sua religião não aceita. O perigo é real e as reações extremistas a que assistimos têm por base estas realidades preocupantes e até assustadoras.
Não se trata aqui de ideologias nem tão pouco de ser mais ou menos tolerante para com os estrangeiros. A questão é muito mais abrangente e prende-se com a sobrevivência do mundo tal como o conhecemos. A prática comum de “arrumar” pessoas e pensamentos por caixas e cores não tem cabimento aqui. Não se trata de ser vermelho ou verde, de ser de direita ou esquerda. Não são as religiões que estão em causa, mas o que fazem com elas e aqui os extremistas islâmicos batem-nos aos pontos, por larga vantagem. Trata-se de defender os direitos sociais com que foi possível construir a Europa e, consequentemente, toda a civilização ocidental de um ataque bárbaro que não os reconhece e os pretende aniquilar. O choque civilizacional é evidente. Olhemos mais longe do que os nossos olhos alcançam e em trinta anos a Europa pode estar em colapso, agonizante, entregue a guerras intestinas com as fações muçulmanas a imporem as suas regras e a tudo fazerem para asfixiar os que ainda lhes sobrevivem. Mas separados, os países ocidentais serão presa fácil para esta guerra a partir de dentro, daqueles que se alimentaram do próprio corpo que agora mutilam e destroem.
Pode parecer fantasia e causar arrepios pelo dantesco que nos parece mas é real e daí ser tão assustador.
Atentemos aos fenómenos recentes nesta “ainda” nossa velha Europa.
Os atentados terroristas que abalaram principalmente França e Alemanha foram propagados por cidadãos europeus de origem islâmica. Já cá nascidos mas absolutamente ligados às causas que os grupos radicais professam. Cresceram e estudaram, desenvolveram profissões e estiveram em letargia durante anos até que um dia deram impulso a um ataque há muito programado. Estas bombas relógio humanas são uma face diabólica da capacidade de manter um plano para lá do normalmente tido como suportável pelos conceitos ocidentais. A verdade é que um cidadão ocidental, cristão ou mesmo ateu, é um consumista nato e trata a realidade como uma vertigem cultural e economicista, de rápida substituição e alternância de conceitos, pessoas e bens. O seu congénere radical, ligado ao Oriente, tem uma componente ideológica e religiosa que o alimenta e mantém fortemente ligado a um espírito de missão que nenhum ocidental compreende e professa. O individualismo capitalista aprova e endeusa o uno e o sucesso da individualidade. No seu oposto, a oriente fomenta-se o grupo, a tribo e o desígnio comum, com propósitos guerreiros e belicistas de combater o inimigo comum, esse ser desprovido de alma e valores que é o ocidental visto pelas suas lentes opacas e disformes.
São estas pessoas que convivem nas mesmas ruas das velhas cidades de França, Bélgica ou Holanda. No coração estratégico da velha Europa, vão crescendo estas fações adormecidas que um dia nos tomarão de assalto.
No entretanto, os líderes políticos andam entretidos a discutir a economia e quando são confrontados com ataques preocupam-se em distinguir os terroristas dos países e religião de onde são originários. Entende-se que não queiram confundir a árvore e a floresta onde cresce, não alimentando sequelas de vingança mas ao não agirem na raiz do problema estão a permitir que a doença se vá alastrando. Fenómenos como o Brexit não tiveram a ver com economia mas, tão só, com medo da imigração e dos perigos que a mesma comporta. Trump ganha com as mesmas razões racistas e segregadoras. Marine Le Pen entregou 144 razões para tornar a França numa fortaleza inexpugnável. Isto não acontece por acaso e todo este processo é doentio e perverso e pode levar a Europa a uma nova e quem sabe derradeira guerra, alastrando-se, tal como nas anteriores, ao resto do planeta.
As tensões sociais estão a ser menosprezadas e a visão que a comunicação social nos dá é parcial e tendenciosa. Os fenómenos radicais estão a agudizar-se em quase todos os países que viram as suas fronteiras “invadidas” por refugiados. Há muros já levantados na Hungria e Sérvia. Trump não está a acenar com nada de novo. E nem precisamos de lembrar Berlim. O medo está instalado e a Europa está em cheque há muito mais tempo do que está em choque, pelos ataques a quem tem sido sujeita. Tarda em compreender que ao ser tolerante permitiu que evoluíssem os que querem a paz e os que querem a guerra. Lado a lado, vestidos de igual, indistintos e insondáveis. E na caça às bruxas que se vai prosseguindo não se irão resolver os problemas que a segregação das metrópoles alimentou durante décadas.
A velha disputa entre mais liberdade ou mais segurança extrema-se. A liberdade está ser atacada em todas as frentes. Pelos que a defendem mas já não sabem como e a estreitam abruptamente. Pelos que contra ela atentam em defesa das suas ideologias. E pelos que excessivamente preocupados com o seu bem estar e lucro fomentam o radicalismo e a violência como resposta. E na resposta a segurança impõe as suas leis, segregando e separando, policiando e desconfiando de tudo e todos. Um mundo securitário é um mundo pior, mais desigual e infeliz e em nada melhor para quem acredita nas benesses de um mundo livre. Se há algo que urge é bom senso, em todos os quadrantes e países. Perceber quem é a favor da ordem mundial ou quem, pelo contrário, quer emergir na divisão e nas feridas da guerra. Mas, para tal, os dirigentes mundiais têm de deixar cair os seus egos desmesurados e a senda populista de se intitularem como salvadores face aos caos. Até porque a realidade desmente os seus pretensiosismos, mostrando as suas falhas e fraquezas gritantes e a impotência em mudar o rumo dos acontecimentos.
A “guerra dos mundos” está instalada. Por mais velada que seja e nos soneguem factos contundentes, basta lembrar o que nos anos 90 do século passado sucedeu nos Balcãs, com o desmembramento da Iugoslávia de Tito. Vizinhos a familiares que passaram de amigos a adversários, sob bandeiras ideológicas e religiosas, com execuções bárbaras e práticas de genocídio dentro da velha Europa!
O perigo é real e urge refletir, unir esforços e tomar medidas com inteligência e sabedoria e não a reboque de demagogias populistas que são tão ou mais radicais que os grupos que pretendem combater. A união europeia tem em si muitas das respostas. Porque o abismo está já ali, à porta, a fazer ecoar nas suas profundezas, fantasmas de outrora…