Portugal atravessa atualmente uma das maiores (se não a maior) vagas de falta de alojamento para estudantes. Segundo um estudo da Nestpick, em Lisboa, um apartamento de um quarto com 39 metros quadrados (o espaço mínimo recomendado para uma pessoa) tem um custo mensal de 529 euros. Num país em que um quarto minúsculo com uma cama de casal e uma secretária custa 500 euros por mês, como estudam os alunos, condicionados pelo preço dos transportes, falta de tempo e más relações condições-preço aquando do aluguer de um sítio para viver?
São várias as soluções apresentadas, mas poucas as que realmente parecem sustentáveis. Alugamos realmente um quarto onde podemos pernoitar e estudar, sabendo que será gasto quase 90% de um ordenado dos nossos pais, contando com as despesas de luz, água e gás (muitas vezes pagos à parte), sem esquecer que não podemos deixar de comer? Começamos o chamado “ir e vir” de deslocações casa-universidade, incluindo nisto o ter de acordar cedíssimo para apanhar comboios (se tivermos em conta que as aulas começam às 8:30h, por exemplo) e o pagamento dos transportes, bem como a falta de tempo para estudar, condicionada pelas horas gastas em viagens? Ou acampamos frente à universidade, como lemos nas notícias e que nos parece um tanto surreal?
Perante esta situação, surge a pergunta: “Mas valerá mais a um senhorio arrendar um apartamento a turistas do que a estudantes?” Ora, claro que sim e é fácil perceber porquê. Um simpático T2 numa zona histórica de Lisboa pode render 100 euros por dia (cerca de 3000 mil euros no final de um mês) quando alugado a turistas, enquanto que, alugado a estudantes universitários, renderia apenas 1000 euros por mês, com as despesas incluídas. A falta de oferta de casas para alugar a estudantes é baixa, pelo que os senhorios podem perfeitamente “aproveitar-se” da situação e pedir a exorbitância de preços que bem entenderem.
Surge ainda outra questão: “O governo não faz nada perante toda esta confusão?” O Bloco de Esquerda chegou a acordo com o Governo para que, no Orçamento do Estado para 2019, o teto máximo das propinas fique nos 856 euros, menos 212 euros do que o valor aplicado atualmente. O facto é que a falta de alojamento sempre constituiu um problema, só não preocupava o Governo e as reitorias como preocupa atualmente. Preocupa-os agora, apenas porque estão a constatar que, se nada for feito, a subida dos preços dos quartos acabará por afastar muitos alunos das instituições de ensino superior.
Quanto à solução do problema, ela é relativamente simples, embora não seja rápida nem propriamente barata: passa por aumentar o número de alojamentos disponíveis em residências universitárias. Algo que deveria ter sido planeado e desenvolvido há já algum tempo, especialmente antes da subida descontrolada das rendas que se tem vindo a registar nos últimos anos.
A redução das propinas parece ser, assim, uma medida fácil e eleitoralista. Baixamos as propinas mas o preço das casas continua a subir. Em vez de resolvermos diretamente um problema, tentamos distrair as pessoas com a resolução de outros problemas que nos continuam a afetar direta ou indiretamente e que, mais cedo ou mais tarde, afetará todos os jovens que decidam enveredar no ensino superior.